As eleições para os E.U.A. já foram hà quase uma semana, e o absurdo não para de continuar. Ao absurdo óbvio e esperado que seria, e que infelizmente foi, a eleição de Trump para a Casa Branca, junta-se agora o absurdo impensável de termos individualidades de quadrantes não conotados com a turbe de idiotas de apoio a Donald, a transmitirem uma mensagem de calma e de esperança, dando uma espécie de cheque em branco ao presidente recém eleito. Não cito nomes, porque alguns deles até merecem respeito pelo que são e pelo que representam, mas as suas intervenções neste sentido de deitar àgua na fervura não pode ser aceite. Pode-se aceitar e respeitar a eleição deste mentecapto, mas daí a esquecer o caminho percorrido até ao dia 9 de Novembro existe uma distância demasiado grande. Pode agora dizer que no lugar de um muro vai construir uma cerca, ou que até pode aproveitar uma ou outra medida do Obamacare, ou seja o que for, que eu mantenho a minha opinião firme e alheia de qualquer tipo de populismo bacoco. Desculpar Trump e o seu estilo dando-lhe uma oportunidade para ver o que é capaz de fazer é destruir os princípios básicos de cidadania, já para não falar da perversão gritante do menos mau de todos os sistemas de organização política... pobre do "demo" que deu o "Kratos" a um louco qualquer...
O pior inimigo é aquele que não se sabe quem é. Pior ainda é o caso desse inimigo escondido estar recatadamente estacionado no meio de nós, impávido e sereno à espreita da melhor hora para se dar a conhecer. No caso dos E.U.A., as décadas de história no combate ao terrorismo deveriam ter sido capazes de estabelecer mecanismos eficazes de reconhecimento dos inimigos, principalmente os tais que não se sabem quem são, e que dificilmente se dão a conhecer. O resultado das eleições de ontem são a prova de que esses mecanismos falharam, e numa espécie de autofagia o eleitorado americano deitou por terra os últimos oito anos de esperança servida numa bandeja por Barack Obama, e escolheu o inverossímil. De Trump já disse o que tinha a dizer, e mais seria cair na redundância de adjectivos que nunca serão poucos para caracterizar o novo presidente dos E.U.A.. Do resultado de ontem apenas posso reconhecer a tristeza de uma escolha que não poderia ter vindo na pior altura possível. Num tempo em que os refugiados não param de crescer, escolher um candidato que prometeu a construção de um muro na fronteira com o México, a ser pago pelos mexicanos, não me parece uma escolha sensata. Num tempo em que os acordos climáticos são como pão para a boca do planeta terra, escolher o candidato que nega que as alterações climáticas são culpa da actividade humana, é algo que só pode deixar o resto dos habitantes do planeta com uma angústia tremenda, estando os destinos do principal país produtor de gases que contribuem para o efeito de estufa nas mãos de um energúmeno do calibre de Trump. Parafraseando o Michael Moore, aos americanos só se pode dizer "Shame on you".