O dia de hoje cumpria os requisitos da normalidade. O planeta moveu-se na sua tragectória elíptica em direcção a mais um solstício de Inverno. O parlamento discutiu o último orçamento de estado da vigência da maioria que tem os seus dias contados. O povo manifestou-se na rua. A oposição ao actual governo deu o ar da sua graça com as tradicionais piscadelas de olho ao voto traduzidas em propostas de última hora, qual delas a mais romântica, tendo a companhia do proto-candidato a primeiro-ministro Pedro Nuno Santos, que votou apenas porque foi obrigado. Tudo corria como esperado. Com a garantia para o próximo ano de um orçamento aprovado, quando questionado sobre os passos a seguir, Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que após a dissolução do parlamento e até às próximas eleições a 10 de Março não fará intervenções políticas. Imediatamente o pânico instalou-se em comunidades que vão dos comentadores da bola aos astrólogos, passando pelos membros residentes de programas da manhã e tarde aos Chefs das inúmeras soirées de culinária. O momento é de consternação e apreensão porque todos sabem que tem o emprego em perigo, pois se Marcelo não poderá falar de política certamente que não vai ficar calado...
O rufar dos tambores começou a sentir-se, as cornetas sopraram rasgando o ar com o seu silvar, as bandeiras ondulavam e enchiam de cor um pavilhão algures em terras de Cristo-Rei e, num momento de surpresa totalmente programada, o seu nome foi anunciado levando uma turba já de si entusiasmada pelo cheiro a poleiro relativamente próximo (ou pelo menos possível só bastando para isso não fazer muita asneira) a levantar-se em uníssono. Eis então que não aparece nem Cristo nem um Rei qualquer mas sim Cavaco Silva, qual D. Sebastião resgatado das brumas da memória, salvo da pacatez de Boliqueime em nome de uma causa maior, ao som de "Paz, pão, povo e liberdade" a caminhar pelo meio de comuns mortais que queriam estar o mais próximo possível de alguém regressado do Olimpo dos Deuses, percorrendo essa amálgama de seres humanos quase do mesmo modo que Moisés fez ao separar as águas do mar, finalmente chegado ao púlpito da coroação do seu seguidor Montenegro foi então capaz de absorver a dimensão da sua presença, a primeira desde há muito tempo, e de semblante pasmado pela emoção perguntou ao seu interior "onde estão as minhas pantufas".
Como em muitas coisas na vida, a melhor forma de entender os complicados caminhos e nós górdios que a sociedade tece é recorrer à metáfora. Como sou um apaixonado pela bola e para poder explicar a alguém mais distraído, vou recorrer ao universo futebolístico para explicar o que penso de toda esta barafunda para onde fomos empurrados. Imaginemos o governo de Portugal como uma equipa, o Primeiro-Ministro o Treinador, o Presidente da República o dono do Portugal F.C. e a Procuradoria Geral da República o Árbitro. O Mister costa começou a sua primeira temporada totalmente focado num modelo ofensivo, conseguindo mesmo o lugar depois de um ataque brutal pela esquerda, depondo o treinador que teria sido a primeira escolha dos sócios. Os anos que se seguiram foram duros mas recorrendo ao seu número 10 - Pedro Nuno Santos - a bola foi tratada num estilo diferente do Tiki-Taka espanhol. Recorrendo ao Gerin-Gonça tuga, um modelo de jogo que não sendo uma novidade foi soberbamente maestrada por Santos, o dorsal 10 desta equipa governativa este sempre ao nível do peso da mítica camisola. O problema foi que depois de tanto se explorar o flanco esquerdo e a táctica da Gerin-Gonça, o desgaste foi inevitável e na época seguinte (2º governo) já só contou com aparições esporádicas do BE e PAN, jogadores que tal como acontece frequentemente nas equipas vencedoras de baixo orçamento viam o seu futuro noutras paragens. O cansaço deu sinal mas, com muita resiliência, a equipa governativa seguiu em frente até ao limite das suas forças. A 2ª época não chegou ao fim e os sócios, conscientes do esforço até então despendido, deram um voto de confiança e depositaram em Costa toda a sua força para um terceiro mandato. O Presidente do Portugal F.C. duvidava, mas perante tal mostra de vontade da massa adepta, acedeu em assinar mais uma temporada com Costa. Quando tudo parecia levar caminho para a baliza aberta e rematar certeiro sem qualquer oposição, eis que as lesões ceifaram os seus melhores elementos. O banco de suplentes estava cada vez mais curto, mas Costa acreditava na equipa. Contudo, depois de uma entrada perigosa de jogadores repescados da equipa B, que Costa não viu, o Árbitro da Procuradoria Geral da República mostrou o cartão vermelho. Adiantando-se ao Presidente Marcelo, costa pediu a rescisão do contrato. Portugal F.C. encontra-se agora num defeso que se prevê conturbado, e só lá para meados de Março do próximo ano é que voltará a ter treinador.
Por estes dias, em Estrasburgo, durante o debate sobre o estado do Direito em Espanha, um alemão - Manfred Weber - presidente do Partido Popular Europeu, adjectivou o actual governo português de corrupto. A faísca fez fogo, e num ápice acendeu-se a discussão entre dois tugas que fazem parte do mesmo hemiciclo, embora em lados opostos. Pedro Marques, deputado do PS, e Paulo Rangel, deputado do PSD, trocaram argumentos de taberna em pleno parlamento europeu. O caso foi extra e ordinário, e ao mesmo tempo extraordinário. Extra porque o assunto em discussão foi esquecido e acrescentou-se um que pelo que se apurou até ao momento não tinha qualquer relação. Ordinário porque o teor dos argumentos em nada enobrecem quem os proferiu. E extraordinário porque pelo menos uma vez, de vez em quando, o resto do parlamento europeu descobre que afinal na Europa também se fala português.
O Reino Unido foi hoje a votos. A verdade é que estou verdadeiramente nas tintas com o resultado, porque tendo em conta que a sua saída já percorre o caminho da porta dos fundos não me parece que o que de lá vier nos traga algo de positivo, pois o que de positivo poderia vir já anda a ser negociado por essa Europa fora, na figura de todas as instituições europeias que tinham sede lá, e que agora precisam de um novo lar. No entanto, não deixo de admirar a clássica e típica maneira de estar inglesa, a terra dos cavaleiros, dos cavalheiros e dos gentlemen. As eleições foram então realizadas hoje, num vulgar dia da semana, e não tendo acesso aos números oficias não poderei construir o meu argumento com a solidez da matemática, mas sempre posso apostar numa análise sociológica para chegar a uma conclusão muito simples - isto não poderia acontecer na tugalândia! Se os nossos níveis de abstenção chegam frequentemente à maioria absoluta, em escrutínios realizados na pacatez dominical, imagine-se o que aconteceria se os mesmos fossem durante a semana. Se ao domingo a desculpa dos dias solarengos para ir à praia, ou a chuva e o frio que não permitem descalçar as pantufas levam os eleitores a assobiar para o lado acerca dos destinos do seu país, não consigo imaginar o ocorreria num dia útil da semana, pois se tivermos em conta que uma grande percentagem da população corresponde ao assalariado que vive ao sabor dos patrões, entidades enriquecidas do poder que os anos da troika por cá deixaram, não me parece que entre o dia de trabalho e as responsabilidades da casa sobre muito tempo para marcar a cruz no quadradinho...
No dia 20 de Janeiro deste ano, publiquei um artigo com o título igual ao de hoje, com uma pequena diferença - o ponto de interrogação. Nesse dia, data em que Donald Trump tomou posse do cargo de Presidente dos E.U.A., a interrogação era uma figura de estilo que dava o beneficio da dúvida para um indivíduo que até então não se cansava de dar argumentos para eu, tal como muitos outros, ter a certeza do caminho que iria seguir. Hoje, poucos meses após esse dia, a interrogação já não faz sentido e Trump fez questão não só de rasgar os Acordos de Paris, como também destruir por completo a sua presunção de inocência, e argumento algum pode justificar o fim de algo que tanto custou a conseguir. Negar as evidências do dia-a-dia e os avisos da comunidade cientifica internacional é algo que já não acontecia desde o tempo em que Galileu afirmou que a terra era redonda e orbitava à volta do sol, e tendo decorridos quase 500 anos desde esses tempos parece que a Inquisição sendo algo de um passado muito longínquo surge agora encarnada na figura de Donald Trump. A divina providência, no seu sentido de humor muito peculiar, proporcionou que o anuncio oficial ao mundo fosse feito no dia de hoje, dia mundial da Criança. No dia em que celebramos os seres humanos do amanhã, o mundo assistiu desde a primeira fila a um regresso ao passado de despotismo, arrogância e intolerância, verdadeiras setas apontadas ao coração desta velhinha terra que infelizmente não parece ter muita mais capacidade para aguentar a estupidez da raça que deveria ser sapiens, mas que no fundo é a menos inteligente de todas as criaturas que aqui habitam.
Poderia divagar nas minhas minudências de argumentação, mas penso que o leitor ficará muito melhor servido se o próprio ler e comparar as mensagens que dois presidentes dos E.U.A. em anos diferentes deixaram no mesmo local - o Museu do Holocauto de Israel:
Barack Obama (2008) "Estou agradecido a Yad Vashem e aos seus responsáveis pela sua extraordinária instituição. Num tempo de grande perigo e promessas, guerra e progresso, estamos abençoados por ter uma recordação tão poderosa da capacidade humana em criar tanto mal, mas também da nossa capacidade de nos levantarmos e ultrapassar uma tragédia para reconstruir o nosso mundo. Os nossos filhos devem aqui vir e aprender a história, para que possam conosco unir-se e proclamar "nunca mais". E recordemo-nos daqueles que nos deixaram, não só como vítimas, mas também como indivíduos que tiveram esperança, amaram e sonharam como todos nós, e que se converteram em símbolos do espírito humano"
Donald Trump (2017) "É uma grande honra estar aqui com todos os meus amigos - é inacreditável, nunca o esquecerei".
As semelhanças são tão poucas, que caso o leitor tenha dúvida pode ver as mesagens escritas pelo punho de cada um em http://metro.co.uk/2017/05/23/trumps-words-at-the-holocaust-museum-have-been-contrasted-with-obamas-words-6656267/
Existem muitos tipos de efeitos. Nas mais variadas categorias, em diversas disciplinas ou num sem fim de aplicações práticas diárias, os efeitos explicam e justificam fenómenos para o ser humano entender e deles tirar as devidas ilações: o efeito de estufa explica o aquecimento global; o efeito borboleta é o cerne da teoria do caos; o efeito doppler que justifica a percepção de som diferente por duas pessoas em locais distintos; o efeito de Bernoulli que permite aos aviões voar. Um sem fim de efeitos que acompanham teoremas, teorias, princípios ou postulados. Com pouco mais de um ano de presidência Marcelo Rebelo de Sousa já demonstrou que merece pertencer a esse conjunto de "efeitos". Como o registo de patentes está pela hora da morte, e sendo um singelo trabalhador de 40 horas semanais, não me sobra muito tempo para tratar dos direitos de autor desta ideia, pelo que arrisco aqui na escrita destas linhas para partilhar aquilo que ficará para a posteridade como o "efeito Marcelo". Desde 9 de Março que não param de acontecer coisas boas aqui pela tugalândia:
- em França, terra de emigrantes tugas, a Selecção Nacional conquistou um Campeonato da Europa, depois de ter consentido 3 empates contra adversários modestos, uma passagem aos quartos pela margem mínima contra a Croácia, penáltis salvadores contra a Polónia e a única vitória nos 90 minutos nas meias-finais contra o País de Gales. Só mesmo na final defrontamos um candidato ao título, e vencemos com um golo de um improvável Éder. Em 2004 eliminamos Espanha, Inglaterra, Holanda e perdemos a final com a improvável Grécia... palavras para quê;
- em Kiev, num festival europeu da canção que sempre premiou um estilo muito particular e inúmeras vezes peculiar, Salvador Sobral venceu com uma belíssima canção que rasga os cânones desse festival. Deve ter sido um caso de água mole em pedra dura, porque anteriormente já tínhamos enviado muita coisa boa, desde Simone de Oliveira "Desfolhada", Fernando Tordo "A Tourada", Paulo de Carvalho "E Depois do Adeus" ou Dulce Pontes "Lusitana Paixão"... palavras para quê;
- aqui pela Tugalândia, tivemos os anos do "Terror" em que coligação de direita governou como se fossem o Sheriff de Nottingam, a amealhar o dinheiro dos impostos para o Rei João, perdão o FMI, sem que conseguissem com essa actividade cega de colheita tirar o país do pântano. Chega agora uma geringonça que abre os cordões à bolsa, repõem os direitos dos trabalhadores ao melhor estilo de Robin dos Bosques e consegue tirar o país da miséria, com elogios de Wolfgang Schäuble que considerou Mário Centeno o "Cristiano Ronaldo do Ecofin"... palavras para quê.
Poderia certamente citar mais alguns exemplos, mas penso que estes três sobram em conteúdo para catalogar o "efeito Marcelo" como "o meio pelo qual temos chegado ao fim desejado, objectivo alcançado pela entropia desenvolvida pela actividade frenética e bem humorada do presidente da república mais jovial da história da tugalândia".
Engane-se quem pensa que António Costa só foi a terras dos mestres Shaolin com o objectivo de recolher o interesse dos ávidos investidores chineses, acenando com as vantagens do território tuga no sentido da capitalização dos lucros, e apelando ao sentimento forte que une a tugalândia e o país da grande muralha desde os tempos dos descobrimentos. De facto o primeiro-ministro foi à China por isso, mas também porque considerou esse país um excelente destino para efectuar o estágio pré-orçamental. Ciente das dificuldades de apresentar ao parlamento um orçamento de estado confeccionado a três, o chefe da "geringonça" desenvolveu nesta viagem competências ao nível do confucionismo, estudou as origens da esquerda maoista escrutinada do marxismo-leninismo, e aprendeu com os dirigentes da Assembleia Popular Nacional que ocupam o cargo desde tempos imemoriais. Costa chegará assim à tugalândia pronto para enfrentar as feras da esquerda tuga, que tudo farão para tornar a vida impossível, trazendo na sua bagagem uma nova dinâmica arquitectada neste estágio oriental e munido de ensinamentos e pensamentos como estes que se seguem, conseguidos por fontes muito bem colocadas na mala do primeiro-ministro:
"A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros" ( sobre o fim da sobre-taxa no IRS)
"Ultrapassar os limites não é um erro menor do que ficar aquém deles" (Justificação para esse fim ser para uns, mas não para outros)
"Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer" (Pensamento para enquadrar a "geringonça" no panorama das constantes ameaças dos mercados de uma nova intervenção, servindo também de slogan motivacional para este orçamento à esquerda)
A candidata pelos democratas a ocupar a sala oval da Casa Branca espirrou! Não tardaram a surgir reportagens sobre o assunto e, como não poderia deixar de ser, entrevistas aos transeuntes. Estando a falar de habitantes dos EUA não deveria contar com algo de muito diferente daquilo que vi e ouvi, mas tendo em conta que alguns deles poderão ficar com dúvida na hora de votar, preocupados por escolherem uma pessoa que não "tenha uma saúde de ferro para liderar os destinos desta grande nação", não sou capaz de ficar indiferente. Sem presunção alguma de que estas linhas cheguem a algum eleitor dos EUA, terei que recordar que um dos melhores presidentes das terras de Uncle Sam, e logo nos tempos mais que difíceis da segunda guerra mundial, foi Franklim Delano Roosevelt, um homem que não teve dúvidas na hora de declarar guerra às potências do eixo, um homem que teve que lidar com as excentricidades opostas de aliados como Churchill e Estaline. A doença colocou-o numa cadeira de rodas, mas foram raras as vezes em que assim apareceu em público, recorrendo às mais variadas formas de não deixar que aquilo que os olhos vêem nublassem a vontade firme e férrea com que governou o país até 12 de Abril de 1945, data da sua morte, poucos dias antes do fim da guerra na Europa. A escolha que o eleitorado americano é importante também para o resto do mundo, e espero que os elefantes votem no burro, e que os burros não o sejam.
O processo de escrutínio para a eleição no novo secretário geral das Nações Unidas está à beira do fim. Numa espécie de maratona eleitoral, os candidatos a uma mudança para a Big Apple passam por diversas votações, campanhas e debates, para conquistarem a confiança de quem tem voto na matéria. Ou seja, é uma espécie de decatlo, só que no lugar do atleta perfeito teremos uma espécie de político perfeito, coisa que depois de escrita me deixa algo confuso e temo ter descrito algo tão mitológico como a Hidra de Lerna ou a Corça de Cerineia. Não sendo um Hércules, António Guterres pertence a uma espécie de políticos em vias de extinção, tendo seguido a via diplomática altruísta depois de ter conduzido os destinos do país da melhor forma que foi capaz, com muito diálogo e alguns problemas de matemática à mistura. No lugar de ser um pau mandado das grandes potências europeias, para depois colher os frutos do seu trabalho de sicário ocupando um cargo importante qualquer na maior instituição mafiosa do mundo capitalista, Guterres foi o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, posição que diz muito da sua pessoa e que, quanto a mim, o coloca na linha da frente para ser o próximo secretário geral da ONU. A medalha está garantida, aguardemos que seja a de ouro.
Daquilo que me recorda, esta horta à beira mar plantada já teve todo o tipo de primeiro-ministros. Desde o algarvio com dificuldades a comer o bolo rei, passando pelo engenheiro com problemas ao nível da matemática, pelo cherne que fugiu para os mares do norte, o playboy dos anos 90 da política tuga, pelo principal motivo dos noticiários do correio da manhã, pelo barítono que deu música à Merkel mas ruído aos tugas, e chegando ao actual primeiro primeiro-ministro que ocupa o cargo depois de perder umas eleições, o leque de indivíduos que se mostrou disponível para comandar os destinos tugas nunca faltou, assim como já são várias as soluções governativas da nossa jovem democracia. Pelos vistos o mesmo já não podem dizer os nossos vizinhos. Espanha vive 2016 sem governo, e entre eleições, reuniões e encontros com o Rei, chegamos ao mês de Agosto sem entendimento lá para as bandas da Moncloa. Não sei é que conclusão retirar disto! Fico na dúvida entre a falta de qualidade dos políticos espanhóis, ou a constatação que para governar um país não faz falta grande coisa...
Em plena crise política, inédita na tugalândia, o nosso presidente da República (a minúscula não é engano...) depois de um SPA na ilha da Madeira resolveu marcar uma espécie de Conclave, convocando para o efeito membros das mais diversas esferas de influência da sociedade, representantes dos sindicatos dos trabalhadores, pessoal do pilim e da massa, e partidos políticos. O Palácio de Belém fez as vezes de Capela Sistina, e até ao momento o único fumo que saiu dessas reuniões foi o da cabeça de Cavaco. O senhor não foi feito para estas andanças, e o eleitorado e os políticos poderiam ter em conta a sua falta de capacidade e incompetência para a gestão deste cargo, e deveriam ter evitado chegar a este ponto. Depois de 10 anos a governar com maioria absoluta no tempo das vacas obesas, Cavaco apresentou-se ao eleitorado para chegar à Presidência da República pensando que o cargo seria uma espécie de retiro pré-reforma, igual ao dos jogadores de futebol que acabam os seus dias num campeonato do Qatar ou dos EUA quaisqueres. Agora que está quase a plantar couves, agriões e laranjeiras no seu quintal de Boliqueime, o povo quis que pelo menos uma vez na sua carreira política fizesse algo de verdadeiramente arrojado. Teve a sua oportunidade e perdeu-a, ficando agora o país pendente do Conclave que esta semana se realizou, e esperar que o fumo final seja branco, porque o fumo preto da cabeça do presidente já começa a perigar as quotas de emissão de gazes de estufa...
O torpor da noite condimentado com o pico de produção de melatonina provoca uma moleza natural, fruto de mais um dia de trabalho, condição inquebrável pelo mais forte dos cafés. No entanto hoje, ao efectuar uma última análise aos jornais digitais, leio uma notícia que para além de fazer tilintar a campainha do "post à vista", provocou-me uma verdadeira crise de insónia. Segundo o Jornal i, os líderes parlamentares do PPD e do CDS "formalizaram esta terça-feira a proposta de que o parlamento evoque o 25 de Novembro "com uma conferência ou sessão", numa carta enviada ao presidente da Assembleia, Ferro Rodrigues". Esta atitude confirma então o ressabiamento nervoso diagnosticado por António Costa, patologia que segundo o secretário geral Socialista terá a duração de alguns meses. Espero eu que, a bem da nação, do pluralismo democrático, e acima de tudo do bom senso, esse ressabiamento não tenha tanta duração, porque seguindo este sinuoso caminho da demagogia política histórica, qualquer dia teremos Montenegro a sugerir o dia 4 de Dezembro para feriado nacional, ou passar o dia 10 de Junho para o dia 18 de Maio com comemorações permanentes na Figueira da Foz...
A nossa democracia não sendo velha, vendo contudo os anos da juventude a uma distância considerável, entra agora naquilo que Paco bandeira imortalizou como a ternura dos quarenta. A recepção não sendo a melhor possível, foi aquela que o povo desejou, e desse modo tivemos um governo a caducar passados apenas 11 dias da sua tomada de posse, quebrando as performances dos governos provisórios do PREC. Desde o 25 de Abril de 1974 que existe uma lacuna prestes a ser preenchida neste momento, caso o actual Presidente da República tenha a dignidade de, pelo menos uma vez ao longo dos seus 10 anos de mandato, fazer algo decente, nomeando um governo socialista apoiado pelos partidos mais à esquerda do parlamento. Coligações já existiram de várias formas, umas ao meio, outras à direita, e só faltaria mesmo uma à esquerda para completar as combinações governativas possíveis. A legitimidade de António Costa é conferida pelos votos do Partido Socialista juntamente com os milhões de votos que o Partido Comunista Português e Bloco de Esquerda mereceram dos eleitores, mas também pelos 4 anos de roubo despudorado de uma coligação encomendada e manietada pelos senhores do capital, que na falta de engenho e arte para governar um país não teve pejo na hora de se apropriar dos direitos dos trabalhadores, de alienar as conquistas de quem trabalhou, e de servir um país de bandeja, nação lusitana que merece maior respeito pelo que fez, pelo que foi, e pelo que representou na história da humanidade. António Costa merece a oportunidade porque sabe que os portugueses não merecem mais quatro anos de Coelho e Portas, e por isso mesmo se aventura nesta missão de entendimento à esquerda, difícil é certo, mas ainda assim uma luz ao fundo do túnel para muitas famílias.
Este poderia ser muito bem um post sobre o governo que iniciou as funções de duração garantidamente curta, ou seja, uma espécie de mentira governativa. Mas não! O adjectivo está propositadamente colocado, a adornar o substantivo em causa. Até mais ver temos governo, e como tal temos programa de governo. Assim, o documento hoje apresentado está ao dispor do cidadão e eu, como tal, iniciei a leitura das suas 138 páginas. Contudo, ao chegar à terceira linha a campainha da mentira deu o alarme. Refere o documento que "Com mais de 2 milhões de votos, os partidos que compõem a coligação «Portugal à Frente» venceram inequivocamente as eleições legislativas". Isto é no mínimo uma verdadeira afronta à matemática, e no máximo uma deturpação política dos resultados eleitorais. Se tivermos em conta que esta coligação considera que um governo à esquerda não é representativo da vontade popular, então deveriam ter mais cuidado ao se apropriarem de votos. Verificando os resultados oficiais, a coligação PAF teve 1.993.921 votos, faltando 6.079 cruzes para esses tais 2 milhões de distraídos, perdão, votantes na dupla PPCoelho/PPortas. Posto isto, o leitor deverá poupar a vista e evitar o desgaste provocado por 138 páginas, que tendo começado por uma mentira, o resto não deverá fugir muito desta linha de actuação...
Grande ambiente que se continua a viver nas bancadas! O jogo iniciado no passado dia 4 continua, e encontra-se neste momento no prolongamento. O resultado final continua sem vencedor antecipado, e a qualquer momento o golo pode surgir. O rescaldo do tempo regulamentar deixa no espectador o desejo de que o espectáculo continue. Depois do apito inicial dado por Cavaco, o árbitro do encontro não tem tido grandes intervenções, e ao melhor estilo anglo-saxónico deixa a bola correr. Costa recuperou o esférico no primeiro momento, e viu as desmarcações de Jerónimo e Catarina, ambos em excelentes posições para marcar, depois de movimentos de antecipação que deixaram a defesa adversária aos papeis. No entanto com Portas a central a coligação depressa se fez novamente com o esférico, num lance que deixou algumas dúvidas aos partidos da oposição, e assim se aproxima do terreno adversário. Costa avisa Merkel, o quarto árbitro, que o lance não foi assinalado pelo árbitro, e que o PS quer um jogo limpo e seguro. Os 90 minutos terminaram em clima de crispação, e pelo que se tem visto no decorrer da contenda parece que o resultado final terá que ser decidido com o recurso à marcação de grandes penalidades.
Braga foi a cidade escolhida para dar o pontapé de saída à campanha eleitoral "Maratona Portugal à Frente". Quem viu as imagens pode facilmente concluir que mais do que dar o pontapé de saída, a coligação esteve mais perto de levar não com um, mas com vários pontapés no lombo. No entanto, e para ser correcto e justo pelo homem que deu o peito à pernas, PPCoelho foi sempre na dianteira enquanto que o seu companheiro se resguardava na retaguarda, a salvo do calor da refrega que a turba enfurecida descarregava sobre o actual primeiro-ministro. Se tivesse que fazer um filme que reunisse a história e a personalidade desta coligação, seria de forma resumida assim: ambos foram comandantes desta navegação tuga, que consideraram como lastro a educação, saúde e o bolso dos contribuintes, sem qualquer problema em deitar fora na hora de tirar peso do navio para este se manter à tona, sem se preocuparem com a rota da embarcação rumo à colisão que os marujos não se cansaram de avisar. No final PPortas fez como os ratos e foi o primeiro a abandonar o barco, com o comandante PPCoelho a explicar aos tripulantes o porque da embarcação estar a naufragar...
O nosso presidente da república, fiel ao seu estilo e cumprindo integralmente a sua meta sem sair do sítio, respondeu hoje a alguns jornalistas, quando colocadas algumas questões acerca do debate eleitoral entre os candidatos mais bem colocados para a vaga de inquilino do palácio de S. Bento. De forma sucinta e plenamente esclarecedora, de uma só cajadada arrumou o assunto com, e passo a citar, "Vi uma parte do debate. Mas cabe aos comentadores avaliar, eu não vou falar". Ou seja, Cavaco não deu cavaco à contenda entre Pedro e António. Fontes bem colocadas na sala anexa à sala de estar do Palácio de Belém, garantiram a este blog que o Presidente optou pela emissão do canal de Carnaxide, que transmite em horário nobre os últimos episódios de Mar Salgado, e apimenta o telespectador com um novo enredo televisivo, novela que já conta com o seguidor Aníbal Silva. Enfim, opções individuais de cada um, que não poderão ser confundidas com as posições que cada um ocupa. Por preferir a intriga e os romances dos folhetins televisivos, preterindo um debate político ao mais alto nível, Cavaco entende que a Federação Portuguesa de Futebol fez mal em permitir a marcação de jogos de futebol com os três grandes da bola tuga, precisamente no dia das eleições. Como referiu "Fiquei surpreendido que se tenha quebrado esta tradição de não haver jogos de futebol no dia das eleições. Tendo eu anunciado o dia da eleições no dia 22 de Julho, nessa altura pensei que os organismo do futebol conseguiam encontrar calendário adequados". Ainda bem que as novelas dão no período da noite, pois pelos vistos poderia acontecer que um Presidente da República viesse a aumentar os níveis da abstenção...
Depois do debate de ontem, encontro-me nas perfeitas condições para afirmar que tenho a certeza que o meu interesse na política é inversamente proporcional ao número de moderadores dos debates televisivos. Em debates deste tipo, seria mais do que suficiente a presença de um jornalista, cuja função seria a de colocar as perguntas que os tugas gostariam de ver e ouvir discutidas, mediar o tempo das respostas de cada interveniente, e velar pela cordialidade da contenda. Para além de terem aumentado o número de repórteres, a sua actuação como moderador deixou de o ser, e cada vez mais se misturam num debate que seria à partida entre os políticos convidados. De um passou-se a dois, e ontem o ridículo teve o seu expoente máximo. Já diz o ditado popular "dois é bom, três é demais". Política e jornalismo andam de mãos dadas, e cada vez mais dá vontade de não usar a caneta para preencher o boletim de voto, e não ligar a televisão na hora das notícias.