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E porque não eu?

terapia de reflexão para mentes livres e com paciência, SA ou Lda não interessa, pelo menos pensar não paga impostos

E porque não eu?

medo de Existir

por António Simões, em 23.09.20

Homo Sapiens Sapiens… até aqui chegamos! Partindo de um caldo primitivo muito pouco comum, de linha traçada de forma igual para todos, de entre bestas e bestiais o ser humano atingiu o patamar mais alto da linha evolutiva, ou pelo menos é aquilo que todos nós, como membros de uma mesma espécie, pensamos. Poderá estar encerrado nesta crença uma espécie de narcisismo colectivo, numa manifestação inequívoca daquilo que Mario Vargas Llosa classifica como o “apelo da tribo” e, como salvo prova contrária não temos qualquer outro membro de qualquer outra espécie que possa ou consiga refutar esta sobranceria, vou continuar nesta linha de raciocínio analisando o que levou o homem chegar ao trono do Olimpo, governando como um verdadeiro Deus esta bola que temos o prazer de habitar. Pergunto-me então qual terá sido o ingrediente secreto que levou a este sucesso!? a esta diferença colossal entre o animal que se tornou racional e os animais que não o são, e pese o facto de não dispor de conhecimentos dignos de registo, quer ao nível da zoologia, antropologia, sociologia ou psicologia, penso que como ser racional que sou tenho o direito de pelo menos tentar uma explicação lógica, que por vezes se encontra na mais simples das coisas, redundando estudos e investigações num resumo muito simples que os teóricos teimam sempre em complicar - o Medo. O homem não teve sempre medo. Nos tempos da pré-história, entre grunhidos e pancadas, o neandertal munia-se da mesma arma psicossomática que os restantes animais de então - o instinto - e à medida que o instinto lhe permitiu ter a sorte de descobrir elementos chave que lhe conferiram uma vantagem competitiva sobre os outros, como o fogo, o seu cérebro começou a aumentar, cabendo ao instinto o papel de permanecer na sua zona mais primitiva e escondida, dando lugar a coisas tão extraordinárias como o medo. Foi o medo, mais que o instinto, mais que a inteligência, mais que a curiosidade, que permitiu a esse animal humano progredir porque, ao contrário de todos os outros animais que continuavam munidos do instinto para sobreviver, descobriu que a sobrevivência mais não é do que uma luta da qual se sabe o resultado final, e o vencedor anunciado - o Medo de existir. A partir do momento em que ganhamos essa consciência embatemos numa realidade dura como uma parede de pedra robusta e inquebrável, e é exactamente nesse instante que recorremos às mais poderosas munições que a evolução nos trouxe, para mitigar a angústia da existência e junto com o instinto, arquivar ambos bem no fundo do iceberg da nossa mente. A partir de então gera-se a confusão entre a espécie humana porque o Medo, como as consciências, é diferente de acordo com a realidade de cada um. O resultado não poderia ser mais trágico, e a história é a melhor argamassa para cimentar a minha opinião, uma vez que com tantos anos de registos e aprendizagens ainda não aprendemos a viver uns com os outros, e no fim de contas, apesar de sermos humanos e racionais, temos Medo do próximo, da diferença, da incerteza, e tantas outras coisas que nos desperta o instinto que rapidamente vem à tona, e regressamos ao estado donde partimos. Se assim não fosse, as fronteiras há muito que tinham deixado de existir, a indiferença seria algo do passado e a sociedade seguiria o seu caminho evolutivo, em lugar de continuamente dar passos atrás.

regresso às Cavernas

por António Simões, em 06.01.20

Existem dois fenómenos que competem em estilo, mas juntos assumem uma sinergia preponderante na hora de vilipendiar séculos de evolução humana na área da escrita - as abreviaturas e os emojis. Estes tsunamis activos de proporções épicas têm como epicentro a evolução das tecnologias de comunicação, criando um enredo que, apesar de honrar os cânones da tragédia clássica, traz consigo a nefasta realidade de uma autofagia intelectual globalizada. A aurora das mensagens escritas com caracteres limitados, que despertou o engenho e arte na hora de abreviar palavras, frases e sentidos, deu um golpe tenaz no romanticismo da correspondência, cuja existência foi suspensa na esperança de um e-mail mas quebrada pela estocada final, efectuada pelas redes sociais. São essas mesmas redes, a evolução natural das mensagens de texto, que acompanham a necessidade voraz de uma sociedade sem tempo para parar e pensar, e alimentam a queda intelectual traduzida em textos cada vez mais curtos e sentidos cada vez mais óbvios, onde um like e meia dúzia de emojis substituem a leveza de letras organizadas em palavras, palavras juntas para formar frases, e frase plenas de sentido. Pergunto-me eu em que diferem os emojis de um telemóvel actual e as pinturas rupestres dos nossos antepassados. Esses pelo menos ainda tinham o trabalho de preparar a tinta, pensar e desenhar o que queriam dizer...

um botão novo, por Favor!

por António Simões, em 08.03.19

Desde já efectuando uma defesa em nome próprio, fique bem claro ao leitor que apenas vi o programa que de seguida refiro pelo simples facto do mesmo ter-me suscitado uma tremenda curiosidade. Não é todos os dias em que o Primeiro-Ministro de um país se deixa entrevistar, em ambiente familiar, ao mesmo tempo em que mostra os seu dotes culinários, facto que por si só já seria de enaltecer. Estas coisas são cada vez mais comuns entre a classe política actual, e destapar o véu da máscara pública desperta sempre aquele sentimento tão humano de voyerismo honesto sem qualquer tipo de confusão com o que esse desporto verdadeiramente encerra. Assim, recorrendo ao fantástico avanço da tecnologia audiovisual que me permite ver programas que nem sequer os deixei a gravar, como se tinha de fazer no tempo das cassetes de vídeo em que se programava a hora prevista e depois o que tinha gravado era outra porcaria qualquer porque os senhores da televisão não se deram ao trabalho de obedecer à TV Guia, vi o programa de Cristina Ferreira, onde António Costa nos presenteou uma bela cataplana de peixe. Ao princípio a curiosidade ainda se sobrepôs à estridentemente estrépita voz da apresentadora, mas ainda a caçarola ainda não tinha ido ao forno e o meu cérebro comunicou ao tímpano que estava em perigo de ruptura. Foi nesse preciso momento que pensei: um botão novo, por favor! Um botão que no lugar de silenciar o som geral nos permita escolher o que queremos emudecer. Que falta tinha feito para conseguir ver tudo até ao fim...

rebobinar o Tempo

por António Simões, em 02.03.19

Alguém terá que fazer alguma coisa para colmatar uma falha tremenda, um erro que pode ser imputado à humanidade no geral e ao ser humano em particular... Frases e pensamentos que ecoam pela eternidade possuem um rosto, um nome, um contexto, e muitas vezes até um local em concreto onde as mesmas foram proferidas. No entanto, aquilo que todos conhecemos e que nos é transmitido de geração em geração, falo da "sabedoria popular", é algo que tem uma história muito mal contada e que merece ter também pelo menos um nome. Se "um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a humanidade" ou "eu tenho um sonho" ou "Salazar? Obviamente demito-o" todos sabem quem, quando e onde se disse, a sabedoria popular também deve ter um autor(a) de frases icónicas como "Carnaval na eira, Páscoa na borralheira", "Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno" ou "Abril, águas mil". Seja a bordo de um DeLorean ou com algo do género das gravações automáticas das modernas televisões inteligentes, é necessário rebobinar o tempo e descobrir quem foi o primeiro a proferir essas pérolas da sabedoria popular, no fundo, aquele que disse algo tão inteligente que se tornou viral... sem Internet...

show must go On

por António Simões, em 08.01.19

Seria de esperar que o primeiro artigo de um novo ano fosse algo positivo e optimista. Apesar de assim me sentir, a inexorabilidade de ser tuga e viver num território povoado por conterrâneos que cavam um fosso tremendo entre o que são e o que eu sou levam-me necessariamente a fazer uma análise de acordo com uma clivagem que aumenta a cada segundo que passa. Pergunto-me como poderemos viver incólumes à quantidade de estupidez gratuita que para além do patrocínio orientado pela comunicação social, é consumida de forma sôfrega por uma opinião pública cada vez mais decrépita e demente, sinal inequívoco de uma sociedade cada vez mais tecnológica e cada vez mais sonegada de capacidades tão vitais para o ser humano como a inteligência, o raciocínio e a honestidade intelectual. Exemplos não faltam, e povoam o nosso dia a dia como cogumelos numa floresta, como foi o caso recente em que uma apresentadora supostamente conhecida e mediática foi para o ar com o seu primeiro programa na sua nova estação televisiva. Até aqui a terra continuava a girar nas suas quase 24 horas de rotação, e continua a girar no mesmo sentido e defeito horário, mesmo quando o presidente desta espécie de país interrompe, e aqui passo a citar "uma reunião" para dar pessoalmente os parabéns a essa apresentadora. Num registo de total surpresa e estupefacção, a apresentadora só conseguiu largar uma lágrima de emoção, verdadeiramente arrancada a ferros para gáudio de um povo que sempre gostou de viver de ilusões e aparências.

literatura de Pacote

por António Simões, em 07.02.18

Um pacote, embalagem ou recipiente de um produto qualquer não dispensa algo tão essencial como o rótulo. Fonte de informação ou veículo de publicidade, o rótulo é uma arma poderosa para a empresa que quer vender o seu artigo, sem prejuízo de disponibilizar no espaço reservado para o efeito tudo aquilo que é importante para o consumidor deliberar a aquisição, ou não, do produto embalado. O que nem sempre se espera, é encontrar uma espécie de abordagem literária que não se enquadra em nenhuma destas duas facetas do binómio vendedor/comprador. Digo isto porque recentemente não fiquei indiferente com essa "literatura", em dois casos muito particularmente diferentes. No primeiro a minha reacção foi de estupefacção quando ao saborear um iogurte líquido leio "se acabaste o teste e ainda tens tempo, escreve uns elogios ao professor - pode ser que te dê uma nota maior". O que é isto! Será que no próximo vão sugerir que lhe abra a porta da sala de aulas, ou lhe leve a pasta para lhe aliviar o peso? No segundo caso a reacção foi de indignação quando ao tomar um café verifico que o pacote de açúcar faz referência a uma espécie de "tradução" de expressões do norte, naquele caso a explicar que "apertar os cordões" significa apertar os atacadores. O que é isto! Nunca imaginei que esta "literatura" de pacote apesar do pouco espaço que tem, literalmente, fosse tão desprovida de originalidade e acima de tudo de sentido.

alô 2018, sociedade Precisa-se

por António Simões, em 13.01.18

Por estes dias já estão decorridos mais de 365 nascer e por do sol, desde o dia em que um ícone como Mario Soares deu por finalizada a sua missão. 2017 começou levando a cabo a inevitabilidade do fim de um ser humano que pautou a sua vida em prol da sociedade, guiado pelos valores mais nobres que foi capaz de adquirir para os moldar num modelo de acção que já é pedra basilar da história de um pequeno país como o nosso. Modelos como esse vão sendo escassos, e substituídos por algo que não me atrevo a catalogar, pois serão parcos os adjectivos do meu dicionário para encontrar classificação possível. O ano que passou começou com algo que só se poderia encontrar numa paródia ao melhor estilo da sétima arte, mas que para infelicidade da humanidade transbordou as fronteiras da imaginação para se tornar algo tristemente real. O país mais influente do planeta escolheu para seu líder aquilo que todos sabemos, e que desde então não parou de lançar as suas lanças de desprezo e irresponsabilidade, roçando sempre até ao ponto de rasgar os paradigmas da inverossímilidade mais pura. 2018 começa com com uma ovação tonta e idiota de uma plateia que supostamente seria inteligente, quando a mesma se revê num discurso de esperança proferido por uma boa pessoa, mas que em circuntância alguma poderia ser vista como uma esperança na oposição. Alô 2018, sociedade precisa-se...

black Days

por António Simões, em 25.11.17

Falta precisamente 1 mês para o dia de Natal. Ontem faltava precisamente 1 mês para a noite da consoada. Por estes dias a caixa de sms do telemóvel só não ficou cheia das mensagens a avisar da Black Friday, porque assim que elas chegavam o seu destino era imediato para o lixo. No entanto, movido pela minha curiosidade de rato de laboratório, não deixei de verificar pela internet as promoções de alguns dos sites que aderem a esta febre de consumismo que clama em voz alta o fim no mundo, para os incautos consumidores que não aproveitam a onda de descontos do momento. É certo que se em alguns casos a poupança esta garantida, em muitos outros ela vem camuflada por uma mentira que já foi evidenciada por organismos como a DECO e por pessoas atentas ao fenómeno de subir hoje para descer amanhã. Contudo escrevo estas linhas não para me manifestar contra sextas feiras negras, nem para escrutinar o valor e conteúdo das mesmas, mas sim pela essência das mesmas quando assumiram a sua tradição de pautar o calendário natalício, seja a um mês do Natal, seja depois deste. Nunca nada é como foi, e as coisas são como são, mas não tenho qualquer problema em assumir que os dias em que hoje vivemos em nada se comparam com o de outros tempos, estando totalmente mergulhados num pântano de valores, no qual nadamos durante o ano inteiro. Esta altura do ano que se aproxima provoca em mim um certo saudosismo de outros tempos, acentuado pelo simples facto que não me consigo encontrar uma bóia que me resgate deste pântano no qual a sociedade actual gosta de chafurdar, escurecendo não só a sexta como todos os outros dias da semana.

i Toque

por António Simões, em 09.09.17

Depois de uma investigação exaustiva onde foram abordadas as mais diversas variáveis, devidamente orientadas pelos critérios internacionais de rigor experimental, estou em condições de afirmar que cerca de 83,57% dos utilizadores de um iPhone usaM o toque que se encontra estabelecido por definição. Lembro o leitor mais distraído que esse toque é uma música de xilofone até bastante agradável, uma verdadeira melodia se o compararmos com o antigo toque da Nokia, mas que fica a anos luz de qualquer outra opção que hoje em dia é possível escolher, passados que estão os tempos da idade média dos telemóveis dos toques polifónicos. O que não pude confirmar, por razões de logística orçamental, é o porquê desse número tão avassalador de pessoas que se mantêm fiel ao toque original, não optando por personalizar o toque, seguindo três das premissas que levaram ao i dos produtos apple: utilizar a i(nternet) para i(nspirar) o utilizador a i(ndividualizar) o seu i(phone). Coincidência ou estatuto, fica aqui a dúvida sobre o assunto...

de Regresso

por António Simões, em 07.09.17

Como poderá verificar pela frequência das publicações que efectuei durante os meses de Julho e Agosto, a minha actividade pseudo-literária é inversamente proporcional à temperatura ambiente e ao grau de luminosidade diária, facto que só comprova duas coisas. Por um lado, confirmo a minha pertença à classe dos mamíferos, ou pelo menos demonstro de forma inequívoca que não faço parte dos répteis. Por outro lado, fica patente que este verão foi à altura dos seus pergaminhos, e o melhor mesmo é aproveitar o que ainda sobra. Até porque em tempo de Silly Season, as notícias já são o melhor argumento...

chuva por Encomenda

por António Simões, em 13.06.17

Está para breve a publicação numa das maiores revistas do mundo da meteorologia e geofísica, um estudo acerca da influência da lavagem do meu carro na precipitação. De facto, após vários anos de averiguações, um equipa de cientistas internacionais foi alertada por este fenómeno que se encontra ao nível da influência provocada pelo anticiclone dos Açores. Perante estes factos, nada melhor do que ver o assunto pelo prisma do copo meio cheio, e em lugar de ver uma lavagem efectuada em vão, vejo uma grande possibilidade de negócio. Assim, já procurei uma equipa de informáticos para desenvolver um site, que servirá para se efectuar encomendas de precipitação. Todos os interessados, desde o singelo agricultor, ao empresário das grandes explorações agrícolas, passando pelos condutores de Formula 1 que conduzem melhor à chuva, e acabando nas empresas hidro-eléctricas que pretendem renovar o caudal das bacias das barragens, poderão efectuar a sua encomenda de chuva, e assim apesar de continuar com o problema por resolver, pelo menos lavo o carro mais vezes do que actualmente.

comer Letras

por António Simões, em 26.11.16

O meu convívio com o nosso país vizinho remonta aos primórdios da minha infância, e sempre me acompanhou durante toda a vida. Apesar de estar habituado a certas deturpações que eles não só não corrigem como não se cansam de repetir, nomeadamente pelo modo como se referem ao Porto de Oporto, tenho vindo a descobrir nos últimos tempos algumas alterações. Ao contrário deste exemplo em que acrescentam uma letra de forma despudorada à cidade do Porto, situação que se torna ainda mais grave quando se referem ao melhor clube do mundo, tenho verificado que a moda agora é abreviar, ou mesmo obliterar partes de palavras e nomes. Digo isto porque tenho exemplos práticos demonstrativos da voracidade com que em Espanha se comem as letras, e se no caso da língua francesa tal acontece ao pronunciar estando no texto escrito as letras bem vincadas, nuestros hermanos não hesitam na hora de poupar consoantes e vogais na escrita e na oralidade:

- a moda da abreviatura - exemplo: referindo-se ao trio de ataque do Barcelona e do Real Madrid, no lugar de citar Messi, Suarez e Neymar referem-se à MSN, enquanto que em vez de Bale, Benzema e Cristiano usam a sigla BBC.

- a moda de cortar no nome - exemplo: em Espanha o Barcelona é o Barça, o Deportivo da Corunha é o Dépor, o por favor diz-se por fa, ou quando querem transmitir calma a alguém em vez de dizer tranquilo dizem tranqui.

Até aqui para mim não é novidade, porque tal como disse no início desde pequeno que convivo com o nosso antigo invasor. Escrevo isto porque acho que o cúmulo tem que se apontado e alguém deve manifestar total desacordo com a forma como tratam o que não é deles. Defendo mais uma vez que deveriam retratar-se quando se referem ao Porto, e espero que os adeptos do Borrussia de Monchengladbach se indignem também quando os jornais desportivos espanhóis lhe comam o primeiro nome e as sete primeiras letras do segundo, tal como li recentemente num dos periódicos desportivos do reino de Castela. 

mac Veg?

por António Simões, em 25.11.16

A cadeia norte americana de comida rápida, conhecida por todos por ter um simpático palhaço como imagem de marca, lançou um novo hambúrguer - o Mc Veggie -. Confirmei os seus ingredientes, e passo a enumerar a sua composição à base de: pimentos, farinha de trigo, proteína de trigo, óleo vegetal, fibras de trigo, ovo, amido, especiarias, sal, cebola, alho, ervilhas, açúcar e quinoa. Confirmei também no dicionário o significado de hambúrguer que passo e transcrever: bife ger. de forma redonda, aglomerado com carne moída e outros elementos, que costuma ser servido dentro de um pão também redondo; bife de carne moída ou picada. Assim, penso que está claro que alguém está errado, e uma vez que confio no bom senso do pessoal que fez o dicionário tenho que virar as agulhas para o outro lado. Acho que essa empresa do ramo da restauração está abrir um precedente terrível no meio, numa espécie de ânsia globalizadora geradora de mais receitas, agradando a tudo e a todos mas pervertendo as suas origens. Por este andar qualquer dia as cervejarias vão ser conhecidas pelas excelentes águas das pedras, a zona da Bairrada será disputada pelos excelentes pratos de bacalhau com todos, e o Alentejo será o destino dos degustadores de cerveja artesanal.

difícil Escolha

por António Simões, em 23.11.16

Aproxima-se o fim do ano e está cada vez mais próximo um ano novo. A agenda deste ano continua a cumprir a sua função, mas a sua substituição é algo inevitável. Foi nessa missão que entrei numa loja para comprar a agenda para 2017. Antes de continuar neste devaneio desta mente inquieta, e uma vez que o leitor deve neste momento estar a questionar-se o porquê de uma agenda, justifico, em minha defesa, que a tecnologia pode substituir muita coisa, mas o prazer de sentir a caneta a desfazer o papel imaculado de um caderno novo em folha é algo que tablet ou telefone inteligente algum será capaz algum dia de proporcionar. Para além disso, a autonomia do suporte de papel é incomparavelmente superior à desses aparelhos, e nunca nos deixa apeados na hora de apontar um apontamento (aqui peço desculpa pelo pleonasmo, mas estava mesmo a jeito). Foi então com o objectivo de seleccionar a minha agenda para o próximo ano que entrei numa loja de uma grande cadeia a nível nacional, que por motivos de legislação e logística processual não posso aqui identificar, mas deixo a pista que tem o mesmo nome que uma antiga empresa de ar acondicionado, entretanto falida, que durante anos foi patrocinadora do clube encarnado da segunda circular. Tendo em conta a referida loja seria de esperar uma escolha difícil, perante a probabilidade mais que certa de existirem vários exemplares diferentes do mesmo produto. Dirigindo-me à secção de papelaria, rapidamente dou com um expositor onde efectuei a minha escolha, após alguns minutos de avaliação. Satisfeito com o artigo dou a volta e deparo-me não com um expositor, mas com uma bancada repleta de mais agendas. Após um tempo superior ao anterior, proporcional ao tamanho e quantidade dos artigos expostos, realizo nova escolha. Com o simples gesto de levantar a cabeça vejo não um expositor, nem uma bancada, mas toda uma parede com mais agendas. Enfrento nova escolha com um estoicismo redobrado, terminando ao fim de 47 minutos a minha demanda. Escolha difícil e que de certeza teria sido a mesma se no lugar do mar de agendas de tamanhos e feitios díspares, alguém tivesse o bom senso de limitar a oferta, e assim evitar o desperdício de tanto papel que apenas tem cerca de um mês de utilidade, pois assim que começa o ano, a sua necessidade é exponencialmente reduzida. Tanto para dizer tão pouco, mas este texto pretende mesmo demonstrar como nos dias de hoje o desperdício é algo com que nos deparamos todos os dias, nas coisas mais simples, nas coisas mais necessárias, nas coisas mais inúteis, e da forma mais resumida possível - em tudo...

face Filtro

por António Simões, em 22.11.16

Uma das coisas que muitas vezes me apontam, pelo facto de não ter conta no enfrenta o livro, é o facto de me encontrar na escuridão do que se fala, na ignorância de saber o que rola no mundo da Internet. No entanto o facto (novo record de factos por linha de texto) de ser um espécimen em via de extinção, que se mantém longe da cadeia de tentáculos de Mark Zuckerberg, não é motivo para me encontrar alheado do que se passa no mundo. Apesar de não embarcar na onda das redes sociais, a Internet é um membro insubstituível das minhas fontes de informação e por lá não faltam sites onde uma pessoa se pode inteirar do que se passa. Melhor do que perder tempo na fisioterapia do indicador proporcionada ao verificar as centenas de publicações dos milhares de "amigos", é receber a informação filtrada numa espécie de crivo que as redes sociais se encarregam de efectuar, sobrando no final o grão fino e puro daquilo que vale necessariamente a pena. Tudo o que hoje se torna, e aqui tenho que usar o jargão actual - "Viral" -, acaba por sair das redes sociais para os meios de comunicação, que se encarregam de elucidar pessoas que, como eu, evitam a perda de tempo desnecessária em tudo o resto que não chega a atingir essa categoria. Resumindo: a relação tangencial que posso estabelecer com a rede de Zuckerberg assume mesmo só o papel de tamiz apurador, função à qual lhe atribuirei o papel de faceFiltro...

sexto Aniversário

por António Simões, em 21.11.16

Passados que estão 6 anos desde o primeiro post , o meu pequeno espaço no universo da world wide web está de parabéns. E se assim está, não é apenas pela marca inexorável do calendário, mas também porque desde o primeiro dia sempre se manteve fiel ao seu objectivo, ao seu motivo principal que leva à sua existência. Aos leitores assíduos fica desde já o meu mais do que sentido obrigado. Aos que não são e, principalmente, a todos aqueles que não o são mas sabem que existe e apenas aqui não passam, sempre têm a possibilidade de recorrer ao histórico do blog, mas aviso desde já que este é o post nº 1038... a prosápia continua...

máquina de Escrever

por António Simões, em 15.11.16

O prazer de escrever é algo que não sei explicar. Bem ou mal, com melhor ou pior gramática, deixar fluir os pensamentos para o exterior de um modo palpável é uma tarefa que me preenche os receptores cerebrais do prazer. Confortavelmente sentado ao computador e acompanhado pela música que gosto de ouvir, os poucos momentos que tenho disponíveis para o fazer são pequenos pedacinhos saborosos que vão pontuando o dia-a-dia. No entanto quando olho para uma relíquia que repousa serenamente na estante, fico sempre com a impressão que falta algo, pois apesar de escrever ser bom no computador, ou num bloco de apontamentos com a minha letra escangalhada que por vezes até a mim mesmo é difícil decifrar, a solenidade de uma máquina de escrever é algo substancial e insubstituível. Como que disparos da nossa mente, o som produzido pelas teclas que pressionamos e que fazem mover o mecanismo metálico que sulca com tinta o papel branco, transmite ao cérebro uma certeza única daquilo que está a fazer. Recortes do antanho como este pertencem a uma classe que nenhuma tecnologia será capaz de mimetizar e em caso algum substituir, e provam que nunca como nos dias de hoje foi tão necessário avaliar as coisas com a mente aberta, lembrando sempre que foi o passado que nos fez aqui chegar, e que nunca se deve deixar esquecer...

os Alienados

por António Simões, em 21.09.16

A página principal do SAPO foi renovada. Desde já aqui ficam os meus mais sinceros parabéns, porque foi uma mudança para melhor, não quebrando com o layout com o qual estou tão familiarizado e dando um ar mais simples e prático para a navegação. No entanto o que hoje me levou a escrever este post não está relacionado com a cara lavada do www.sapo.pt mas sim com um inquérito nesse mesmo site, onde se colocava à consideração dos internautas deliberarem acerca da nova imagem. A pergunta sendo simples, exigiria resposta simples: ou sim, ou não. Ou estava melhor, ou estava pior. A equipa que gere o site poderia ter deixado estas duas hipóteses em aberto, mas cometeu o erro que todas as outras sondagens cometem, ao deixar uma terceira opção para os alienados do costume. "Ainda não me decidi", no momento em que escrevo estas linhas, liderava a votação com 39% dos votos. Num país onde a abstenção seria um dos maiores partidos do hemiciclo, chegando frequentemente à maioria absoluta, dar uma oportunidade para os que "não sabem/não respondem" exercerem a sua função de estar-se nas tintas para o assunto, é garantia de Vitória para uma decisão/opinião ficar adiada. Qualquer que seja o assunto, um ser humano com dois dedos de testa é obrigado pela hierarquia taxonómica a emitir uma opinião. Não o fazer é praticar o deixa andar tipicamente tuga, e desrespeitar milénios de evolução que nos deram algo tão precioso como é o nosso cérebro. Usem-no porra!

e-segregação Social

por António Simões, em 20.09.16

Na hora de encontrar um adjectivo ou algo que classifique o que aqui vou explorar, tenho alguma dificuldade na escolha a efectuar. Por um lado, penso que se pode olhar para isto como uma espécie de bullying informático. Não será também descabido considerar que é uma das formas de pressão social mais fortes do momento. Num mundo onde a democracia está cada vez mais ameaçada, pelas formas de segregação e de censura mais maliciosas que a mente humana alguma vez criou, poderei mesmo olhar para o assunto como se de uma ditadura se tratasse. Dito isto, procuro olhar para o assunto do modo mais isento e clarividente possível, não fugindo à coerência da lógica e do raciocínio. Se em tempos o telegrafo rompeu as barreiras da geografia e o telefone aproximou as pessoas, coube à internet romper de vez com qualquer obstáculo que ainda existisse na aproximação dos indivíduos de um planeta cada vez mais "pequeno". Tudo a seu tempo e doseado de modo terapêutico sempre foi receita para aproveitar estas bênçãos da evolução. Não é contudo o que se passa nos dias de hoje. Até agora sempre se respeitou a diferença, e nunca foi condição pertencer seja a que for para viver o dia a dia. No entanto, e cada vez mais, a pandemia gerada pelas redes sociais corroeu e corrói da mais dilacerada das formas aquilo que supostamente envergam como bandeira. O leitor poderá confirmar isso mesmo nos casais ou grupos de amigos sentados numa esplanada de um café, de corcunda orientada para o pequeno ecrã donde por vezes saltam exclamações e comentários. O leitor compreenderá que hoje em dia quem não tem facebook é um espécimen estranho, à luz dos cânones do momento. O leitor entenderá que pessoas como eu, que não têm facebook, estão fartas de "então não vistes no face", ou "depois ponho no face". O leitor perceberá que é ridículo existirem situações, seja num grupo, num evento ou num site qualquer, em que só tendo facebook é que é possível aceder. O respeito pela diferença exige que as formas de segregação sejam coisa do passado, algo que, temo eu, já esteve bem mais longe do que hoje está.

novo Aspecto

por António Simões, em 16.09.16

Já foi preto com quadradinhos brancos, azul com recortes para o texto, e agora este. Ao longo destes 6 anos de existência, o registo iconoclasta fez sucumbir a tendência inicial para acompanhar o texto com imagens ilustrativas do seu conteúdo. No entanto, porque de vez em quando é preciso mudar o cadeirão de sítio para dar um outro ar à sala, procurei recentemente novos estilos para dar um ar diferente a este blog. Voltando a um registo menos colorido, encontrei a possibilidade de personalizar a página com uma foto original, numa espécie de mistura entre os dois estilos anteriores. Esta foto ilustra parte do perímetro muralhado da minha vila, com as suas guaritas que pontuam a robustez da construção, verdadeiras casas de conforto para os soldados que ficavam de vigia contra o perigo do invasor espanhol. Este recorte da dita muralha tem para mim um significado especial, pois resguardava a minha escola primária. Digo resguardava porque da mesma só resta uma ideia do que em tempos foi. Olho para a foto, e posso prosaicamente pensar que a solidez desta muralha centenária permite garantir a segurança necessária para a guarita dos meus pensamentos.

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