show must go On
Seria de esperar que o primeiro artigo de um novo ano fosse algo positivo e optimista. Apesar de assim me sentir, a inexorabilidade de ser tuga e viver num território povoado por conterrâneos que cavam um fosso tremendo entre o que são e o que eu sou levam-me necessariamente a fazer uma análise de acordo com uma clivagem que aumenta a cada segundo que passa. Pergunto-me como poderemos viver incólumes à quantidade de estupidez gratuita que para além do patrocínio orientado pela comunicação social, é consumida de forma sôfrega por uma opinião pública cada vez mais decrépita e demente, sinal inequívoco de uma sociedade cada vez mais tecnológica e cada vez mais sonegada de capacidades tão vitais para o ser humano como a inteligência, o raciocínio e a honestidade intelectual. Exemplos não faltam, e povoam o nosso dia a dia como cogumelos numa floresta, como foi o caso recente em que uma apresentadora supostamente conhecida e mediática foi para o ar com o seu primeiro programa na sua nova estação televisiva. Até aqui a terra continuava a girar nas suas quase 24 horas de rotação, e continua a girar no mesmo sentido e defeito horário, mesmo quando o presidente desta espécie de país interrompe, e aqui passo a citar "uma reunião" para dar pessoalmente os parabéns a essa apresentadora. Num registo de total surpresa e estupefacção, a apresentadora só conseguiu largar uma lágrima de emoção, verdadeiramente arrancada a ferros para gáudio de um povo que sempre gostou de viver de ilusões e aparências.