olimpo dos Mortais
O grito da passada terça-feira ainda se faz sentir. Não pelos vizinhos que entretanto se cruzaram comigo e me perguntaram o que se passou por volta das 23h horas do passado dia 9 de Março, mas sim pelo dano provocado nas cordas vocais que ainda hoje sinto cada vez que falo. Desde que o VAR entrou na vida dos adeptos do futebol, os golos perderam aquela efusividade natural e intrínseca, e são poucos aqueles que, tal como o livre soberbamente executado de Sérgio Oliveira, nos permitem manifestar toda a nossa paixão no momento em que se atinge o zénite do futebol. Numa fracção de segundo, o nosso sistema nervoso na sua totalidade, a simpática e a parassimpática, se une como uma orquestra para acelerar ainda mais um ritmo cardíaco já no limite do saudável, ordena a todos os músculos do corpo para se levantar do sofá num salto que poderia almejar atingir os níveis olímpicos da modalidade, e obriga os pulmões a exalar todo o ar que existe no mais pequeno dos alvéolos para daí surgir o mais profundo e audível grito que descarrega 115 minutos de emoção. Isto é futebol, mas acima de tudo isto é a paixão por algo que nos escapa à compreensão do razoável. Aqueles que não sofrem deste mal poderão argumentar que não encontram razão plausível para compreender este sentimento, que eu concordo, mas no fundo tenho pena, porque não sabem o que perdem, pois durante uns breves mas saborosos momentos o mais comum e reles mortal consegue sentir o que é fazer parte dos aposentos do Olimpo.