ídolos noutros Tempos
Nasci para a paixão pelo futebol vendo jogadores de calibre ímpar como Zé Beto, João Pinto, André, Jaime Magalhães, Sousa, Madjer, Mlynarczyk, Futre ou Fernando Gomes. Como era muito pequenito, a memória torna-se difusa na hora de ser preciso, mas lembro-me do dia em que o meu Porto veio a Monção para um jogo contra o Desportivo. Foi algo de mágico, como se de repente o impossível deixasse de o ser, e os ídolos que pareciam inacessíveis encontravam-se bem junto de mim. Tão junto que um deles, não me recordo qual, me levou ao colo para dentro do autocarro para eu continuar a coleccionar os tão preciosos autógrafos que eu ia juntando num pequeno bloco de notas. O bloco perdeu-se no tempo, mas uma bola autografada pelos Campeões Europeus de 1987 ainda conservo em casa, um verdadeiro troféu para um Portista de alma e coração como eu. Às assinaturas, ligeiramente gastas pela vontade de dar uns pontapés na alcatifa do meu quarto de pequeno, tenho procurado dar nova vida sempre que tenho a possibilidade de o fazer, quando esses ídolos tem a amabilidade de se deslocar a um dos pontos mais a norte deste pequeno país, para honrar com a sua presença os aniversários da Casa do Futebol Clube do Porto de Monção. Num deles, não desfazendo todos os outros, o Bi-Bota de ouro Fernando Gomes foi um dos convidados. Quase 30 anos depois de ter assinado a minha bola, este humilde redactor destas linhas pediu que renovasse a sua assinatura. De caneta na mão e bola na outra, expliquei o que tinha e o que queria, e na hora de lhe entregar a minha caneta as minhas mãos tremiam como varas verdes pelo nervosismo e excitação do momento. Um ídolo nunca se esquece, e tive a sorte de ainda pertencer a uma geração carregada de pessoas que merecem esse nome. Os tempos mudam, e mudam-se as vontades. Hoje não posso oferecer aos meus filhos pequenas e singelas experiências como essas, porque a realidade é bem diferente. A camisola com o número 10 do próximo ano já não terá o mesmo nome, e o mesmo se passa com muitas outras... ídolos só mesmo noutros tempos...