aeroporto Cristiano
Um aeroporto é muito mais do que aquilo que se pode encontrar no dicionário como definição. É um local marcante de chegadas e partidas, uma porta de entrada para uma cidade ou para um país totalmente diferente de qualquer outra via ou meio, um espaço ciente das suas dimensões e dos seus limites, um território que frequentemente se funde numa torre de babel de transeuntes que se movimentam pelos mais diversos motivos. Como qualquer outro imóvel de interesse público, a atribuição de um nome nunca pode ser feita de forma leviana. Seja qual for a homenagem ou o homenageado, a escolha de um nome deve carregar um simbolismo que é uma espécie de espelho de todos aqueles que dele fazem parte - o povo. Se fizermos uma volta ao mundo poderemos encontrar bons e belos exemplos disso mesmo:
- Aeroporto Humberto Delgado, Lisboa - um homem que a seu tempo se encarregou de fazer frente ao "regime";
- Aeroporto Charles de Gaulle, Paris - o General com o qual os franceses sempre contaram ao longo de muitos anos;
- Aeroporto Otto Lilienthal, Berlim - alemão conhecido por ser um grande pioneiro da aviação;
- Aeroporto Leonardo da Vinci, Roma - o génio da história, e uma das maiores marcas deixadas pelo renascimento;
- Aeroporto José Marti, Santiago de Cuba - mártir na luta pela independência contra os colonizadores de Cuba;
- Aeroporto John F. Kennedy - uma esperança nos tempos difíceis da guerra fria, que não chegou a conhecer os cantos à Sala Oval;
- Aeroporto Oliver Tambo, Joanesburgo - fundador do ANC, foi junto com Nelson Mandela uma figura de incontornável importância na luta contra o Apartheid.
A atribuição do nome de Cristiano Ronaldo ao Aeroporto do Funchal faz parte de uma histeria colectiva que parece não ter fim, alimentada pela paranóia e mediocridade que paulatinamente vai minando a opinião pública. Estou convicto da importância desse grande astro do futebol e reconheço a sua força, vontade e capacidade de trabalho que lhe permitiu chegar onde chegou sempre com uma inabalável vontade de conseguir mais e melhor. Contudo, dar tamanha importância a um "miúdo" de 32 anos que mais não faz do que cumprir de forma zelosa a sua profissão é algo com o qual não posso concordar. Isto é menosprezar tanta coisa que seria difícil e exaustivo catalogar. A jogada que está por detrás desta "homenagem" é a prova viva que nos dias de hoje vale tudo, sendo a bandeira dos valores recolhida e arrumada no baú das recordações, para se erguer agora no baluarte principal a bandeira tricolor da volúpia, da soberba e da altivez.