Estava para passar ao lado, e respeitar os meus princípios, mas senti que poderia estar a trair o clube do meu coração ao não assistir ao jogo contra o rival de estimação. Assisti, no final arrependi-me, e não foi pelo resultado, porque de vitórias e grandes celebrações tenho campo fértil. Arrependi-me porque o sentimento de revolta é tão grande que apenas acrescenta uma certeza que cada vez mais o é, e que tem vindo a ser fundamentada e estruturada nos últimos anos. A certeza que vivemos num país medíocre que se deixa conduzir no sentido da exploração. Nem na Coreia do Norte deve existir um clube que seja detentor exclusivo dos direitos de transmissão dos seus jogos. O que se passa na tugalândia, nomeadamente no caso da BTV, é algo que ofende os alicerces do 25 de Abril, mas que acompanha a lei do vale tudo e no final salve-se quem puder. Os adeptos de todos os outros clubes, que queiram ver o jogo contra o "dono" desse canal, tem que levar com comentários, imagens, repetições, publicidades e sei lá que mais, controlados pelo clube encarnado. É uma vergonha. Pergunto-me até que ponto as câmaras de televisão filmam tudo, ou seleccionam o que se vê, tal como noutros tempos a caneta riscava as partes mais incómodas. Claro que tendo tantos adeptos podem dar-se ao luxo de se lançar numa campanha como esta, com a certeza que é economicamente viável. Mas isso só se consegue num país de gente medíocre, que se guia pela velha máxima da pimenta no local do outro onde o sol não brilha, ser para o próprio um belo refresco, porque em todos os outros países civilizados tal não acontece, porque as pessoas são como o país. Aqui, tal como no terceiro mundo, vale cada vez mais tudo para se conseguir atingir os fins... infelizmente sou português, mas tenho a sorte de ser Portista. Viva o FCP carago!
O resultado da semana passada provou que o futebol, na sua verdadeira essência, é campo fértil de sonhos, onde o impossível não existe. O resultado de hoje provou que o futebol actual, na dura e crua realidade dos números, é algo que cada vez mais tende para o campo do pragmatismo, com espaço escasso para os sonhadores. O meu clube, o Futebol Clube do Porto foi cilindrado por uma autêntica Blitzkrieg, que em 25 minutos arrumou com a noite mágica da passada terça-feira. Longe vai o tempo em que esta competição possibilitava as surpresas, pois ano após ano a tendência para os cromos se repetirem vai-se acentuando. Os orçamentos pesam na hora das decisões, e se Guardiola se lamentava das suas baixas, que dizer de uma equipa que jogou com dois defesas centrais no lugar dos laterais. Poderia divagar em frases a começar pela palavra "se", mas a evidência dos números não mo permite. No lugar disso, vou fazer como o meu campeão mais velho, e inverter o marcador final para não ficar triste.
A paixão clubística não encontra argumentos em compêndio algum de psicologia. É algo que se tem. Pode ser simplesmente herdada, ou trabalhada, ou mesmo uma mistura das duas coisas. No final o sentimento cola-se de uma forma inalienável à pessoa, e passa a fazer parte das suas características essenciais. Vivo o meu clube da forma mais apaixonada possível, e noites como a de hoje elevam o espírito como muito poucas coisas são capazes de o fazer. Podem vir os intelectuais de pacotilha dizer que é mesquinho deixar-se guiar por esses valores, que eu digo que na vida os valores podem e devem ser vários, desde sejam vividos ao máximo. Obrigado Porto por confirmares que os sonhos muitas vezes passam o território da imaginação. Obrigado Papá por me fazeres e ensinares a ser portista. Nada está ganho, mas a alegria de hoje já ninguém é capaz de a apagar :-)
José Mourinho elegeu o "seu" onze inicial, contanto para a convocatória "apenas" com os jogadores que orientou desde que é treinador. Depois de verificar os nomes, e sem beliscar a sua soberana opinião, apenas posso tirar uma conclusão: as supostas "desavenças" que teve com Cristiano Ronaldo só podem ter tido origem num tremendo conflito de egos semelhantes. Ambos sendo dos melhores do mundo nas suas profissões, partilham o facto de se esquecerem das suas "origens", tendo apesar de tudo inúmeras oportunidades para o fazer. Porto e Sporting são sempre esquecidos. No caso de Ronaldo, será o mesmo que esquecer o nome do professor da escola primária. No caso de Mourinho é esquecer os prémios mais difíceis que ele próprio conquistou. Ganhar no Chelsea, Inter ou Real Madrid não é, nos dias de hoje, igual a ganhar num clube de orçamento infinitas vezes inferior como o Porto. Nesse "seu" onze ideal, da equipa do Futebol Clube de Porto de 2002 a 2004 só consta o nome de Ricardo Carvalho, jogador que levou para o Chelsea e posteriormente para o Real Madrid. "Esqueceu-se" de muita gente, tanta que seria demasiado extenso para este artigo, no entanto não posso deixar de apontar alguns esquecimentos demasiado graves. "Esqueceu-se" das defesas do guarda-redes com mais títulos no seu curriculum, o enorme Vítor Baía. "Esqueceu-se" do Bicho, alcunha carinhosa de Jorge Costa, um defesa central à moda antiga, respeitado por qualquer adversário. "Esqueceu-se" de Costinha, que marcou aquele golo em Manchester, e fez Mourinho correr como um louco pela linha lateral de Old Traford. "Esqueceu-se" de Maniche, que deixou o clube onde militava na equipa B, para se entregar de corpo e alma ao Dragão, e partir à conquista da europa. "Esqueceu-se" do Mágico, o número 10 que finta com os dois pés, melhor que o Pelé, o Deco alé alé. "Esqueceu-se" de Capucho, com o seu correr de peito para fora, cabeça sempre levantada e centros mais certeiros que um míssil teleguiado. "Esqueceu-se" do Ninja, um jogador que dava tudo no campo, mesmo quando corria o minuto 112 e ainda sobravam forças para rematar e deixar o treinador no chão, de joelhos a Chorar. Ele pode ter-se esquecido, mas eu não.
Adoro futebol. Apesar de gostar do desporto em geral, só o futebol é que é capaz de transmitir uma paixão irracional que nenhum compêndio de psicologia é capaz de explicar. De momento o tempo disponível para ver jogos na televisão é escasso, tendo cometido blasfémia ao perder alguns jogos do melhor clube do mundo, que por sinal é o meu Futebol Clube do Porto. Contudo, um jogo como este não se pode perder. Barcelona e Real Madrid adquiriram um estatuto ao longo da história que os últimos anos tem vindo a incrementar. Durante 90 minutos mimei a alma com esse desafio, acompanhado por uma bela francesinha. Um desafio à altura das expectativas. Apesar de entrar a perder, o Real Madrid fez pela vida e dominou em território inimigo, merendo o empate depois de uma assistência fantástica de Benzema. Na segunda parte o domínio regressou aos anfitriões, que movidos desde o centro do jogo pelo seu astro conseguiram inúmeras oportunidades de golo, que acabou por surgir depois de um domínio de bola magistral de Suarez, rematando no sentido contrário ao movimento de ataque, enganando por completo Iker Casillas. Não existindo uma figura a destacar, foi com espanto que leio num site tuga "Ronaldo melhor que Messi". É certo que um marcou e outro não, mas também é certo que Messi fez a assistência para o primeiro golo, e na segunda parte esteve em todos os lances de perigo da sua equipa, ao contrário de Ronaldo que quase não tocou na bola. Tal facto só posso atribuir ao facto de ele ter tido muita calma, tal como demonstrou aos adeptos rivais logo após marcar o golo, numa atitude de sobranceria que já é imagem de marca, mas que por vezes fica mal na fotografia...