droga de Programa
Num záping de sábado à tarde, as cores garridas que preenchiam o ecrã da televisão fizeram com que me detivesse por instantes num canal que já foi da igreja. A apresentadora estava vestida na melhor imitação possível da Cruella de Vil, e o seu companheiro era o inconfundível Goucha, que no caso, só depois de apurada investigação é que confirmei tratar-se da sua pessoa, depois de imaginar quem estaria por baixo de uma peruca de cabelos compridos até ao fundo das costas, vestido de fato, munido de um par de óculos ao melhor estilo John Lennon. No palco estava a antiga cantora Romana, e ao verificar o resto dos concorrentes, por momentos pensei que seria uma convenção de cantores pimba falhados. A artista tinha acabado de efectuar a sua imitação de uma conhecida música da finada Janes Joplin. Quando pensava que seria impossível descer a níveis mais baixos, António Sala, outro belo espécimen, dispara fulminantemente a seguinte frase "a romana cantou melhor que a Janes Joplin". Por momentos, e perante este cenário que descrevo, pensei que quem estaria drogado de LCD seria eu. No entanto, como apenas tinha lanchado uma torradinha e um chá dos Açores, a menos que algo estivesse estragado, penso que estava em perfeitas condições de ajuizar a barbaridade que era transmitida pelo canal de maior audiência nacional. Desse modo, só posso concluir que a única diferença entre as mentes que idealizaram este programa, as figuras públicas que o preenchem, e a malograda artista americana, é o facto que todos consomem o mesmo, só que a última consumiu demais.