regresso às Cavernas
Existem dois fenómenos que competem em estilo, mas juntos assumem uma sinergia preponderante na hora de vilipendiar séculos de evolução humana na área da escrita - as abreviaturas e os emojis. Estes tsunamis activos de proporções épicas têm como epicentro a evolução das tecnologias de comunicação, criando um enredo que, apesar de honrar os cânones da tragédia clássica, traz consigo a nefasta realidade de uma autofagia intelectual globalizada. A aurora das mensagens escritas com caracteres limitados, que despertou o engenho e arte na hora de abreviar palavras, frases e sentidos, deu um golpe tenaz no romanticismo da correspondência, cuja existência foi suspensa na esperança de um e-mail mas quebrada pela estocada final, efectuada pelas redes sociais. São essas mesmas redes, a evolução natural das mensagens de texto, que acompanham a necessidade voraz de uma sociedade sem tempo para parar e pensar, e alimentam a queda intelectual traduzida em textos cada vez mais curtos e sentidos cada vez mais óbvios, onde um like e meia dúzia de emojis substituem a leveza de letras organizadas em palavras, palavras juntas para formar frases, e frase plenas de sentido. Pergunto-me eu em que diferem os emojis de um telemóvel actual e as pinturas rupestres dos nossos antepassados. Esses pelo menos ainda tinham o trabalho de preparar a tinta, pensar e desenhar o que queriam dizer...