É curioso como tudo aquilo que disse do último livro que li encontra um paralelismo inverso nesta última obra de Arturo Pérez-Reverte, "Falcó", na medida em que as duzentas e mais algumas páginas se revelam poucas. Poucas porque a história, o ambiente e o argumento são soberbos, orientados com a mestria que Reverte habituou os seus leitores em todas as suas obras, seguindo sempre novos caminhos de uma forma impossível de prever. Espero sinceramente que este seja o primeiro de pelo menos outra obra, na qual o espião Falcó nos guie pelos sinuosos caminhos da Europa de meados do século XX.
É escusado procurar consenso sobre a temática do que se deve ou não fazer num restaurante, tirando o sentido lato e óbvio do mesmo. Esta semana aprovou-se a entrada de cães em estabelecimento que isso mesmo autorize, numa iniciativa legislativa aprovada por unanimidade. Isso mesmo, unanimidade. Fico quase mais perplexo com o facto desta lei ter sido aprovada com o sim uníssono de um local onde normalmente cada um ladra para o seu quintal, do que pela autorização da entrada do amigo do homem nos restaurantes, ainda que sujeita à aprovação prévia dos gerentes. Obviamente que os defensores acérrimos dos nossos amigos de quatro patas já se fizeram ouvir, e a comparação com as crianças volta a surgir, esquecida que estava desde o tempo em que os agarrados do cigarro argumentavam que o barulho dos petizes poderia ser tão ou mais incómodo que o fumo do tabaco. Eu, não tendo cães nem sendo fumador, defendo que o restaurante é local privilegiado para fazer apenas uma única coisa - comer. Fumar pode-se fazer confortavelmente no exterior e os cães, ao contrário das crianças, podem muito bem ficar em casa.
Um pacote, embalagem ou recipiente de um produto qualquer não dispensa algo tão essencial como o rótulo. Fonte de informação ou veículo de publicidade, o rótulo é uma arma poderosa para a empresa que quer vender o seu artigo, sem prejuízo de disponibilizar no espaço reservado para o efeito tudo aquilo que é importante para o consumidor deliberar a aquisição, ou não, do produto embalado. O que nem sempre se espera, é encontrar uma espécie de abordagem literária que não se enquadra em nenhuma destas duas facetas do binómio vendedor/comprador. Digo isto porque recentemente não fiquei indiferente com essa "literatura", em dois casos muito particularmente diferentes. No primeiro a minha reacção foi de estupefacção quando ao saborear um iogurte líquido leio "se acabaste o teste e ainda tens tempo, escreve uns elogios ao professor - pode ser que te dê uma nota maior". O que é isto! Será que no próximo vão sugerir que lhe abra a porta da sala de aulas, ou lhe leve a pasta para lhe aliviar o peso? No segundo caso a reacção foi de indignação quando ao tomar um café verifico que o pacote de açúcar faz referência a uma espécie de "tradução" de expressões do norte, naquele caso a explicar que "apertar os cordões" significa apertar os atacadores. O que é isto! Nunca imaginei que esta "literatura" de pacote apesar do pouco espaço que tem, literalmente, fosse tão desprovida de originalidade e acima de tudo de sentido.