A próxima sexta-feira não sendo dia 13 é véspera do dia das bruxas. Foi desejo da divina providência, ou do calendário eleitoral, que seja precisamente nesse dia que a 13ª legislatura arranque oficialmente, com a tomada de posse do mandato de PPCoelho e companhia para o qual Cavaco, perdão - o povo, lhes concedeu plenos poderes. Todos nós temos sido espectadores atentos deste filme, película de enredo interessante mas cujo final já foi previamente anunciado por membros do elenco. Neste cenário, o anuncio de hoje que revela a constituição do novo governo, inclusivamente com direito a novos ministérios, peca por uma grande falha no sentido de oportunidade de PPCoelho. Em primeiro lugar, porque todas as diligências por ele efectuadas nos dias que antecederam o de hoje estão inexoravelmente condenadas ao fracasso. Em segundo lugar, porque as caras novas apresentadas não terão tempo de ficar na retina do povo. E em terceiro e último lugar, porque é um grande desperdício de papel e caneta gastos nas folhas da tomada de posse de elementos que muito possivelmente não chegarão a aquecer o lugar. Sugiro aos funcionários do Palácio da Ajuda que usem papel reciclado para sexta feira, e aos membros dos ministérios responsáveis pela manutenção dos gabinetes que não colem as placas identificativas, pois depois terão mais trabalho no momento da substituição... uma folha A4 usada no verso servirá...
Em nome de todos aqueles, que como eu ocupam parte do seu tempo ocioso na elaboração de artigos de opinião, venho por este meio agradecer ao eleitorado tuga o bilhete para uma temporada verdadeiramente auspiciosa, espectáculo que garantidamente condenará ao sucesso o mundo editorial. Jornais, articulistas, fazedores de opinião, telejornais, afiam o dente, enquanto que pessoas honestas, sérias e anónimas como este humilde projecto de escrita criativa verificam que o material para trabalhar será em quantidade avultada, numa verdadeira época de vacas com excesso de peso. O presidente da República (a minúscula não foi descuido...) deu o tiro de partida nas hostilidades, e sem perder tempo, numa mostra inequívoca de mão de ferro, o novo Presidente da Assembleia da República eleito por maioria dos votos dos partidos que tiveram menos votos que a maioria relativa da coligação, falou. E que bem falou! Falou tão bem que no lugar dos habituais galanteios neste tipo de eleições surgiu um clima de crispação, e pelo menos por uma vez os políticos foram honestos na abertura dos trabalhos da nova Assembleia. Ferro Rodrigues respondeu à altura com um discurso brilhante, onde colocou Cavaco no seu lugar, bem sentadinho e acompanhado dos adjectivos que melhor descrevem uma atitude cobarde e xenófoba. Aguardo ansiosamente pelos próximos capítulos...
18 dias depois do povo se pronunciar, foi a vez do Presidente falar. Depois de muitas horas de meditação, Cavaco optou pelo caminho mais fácil, e numa atitude ao melhor nível de Pôncio Pilatos deixou a decisão final para o parlamento, local onde o governo indigitado pelo Presidente se apresentará perante os restantes deputados para a crucificação final. Obviamente que de Cavaco não se poderia esperar mais do que isto. No entanto, o discurso onde anuncia que convidou PPCoelho para a formação de governo destapou o manto de isenção com que Cavaco se abrigou durante estes anos, duma vã tentativa de esconder aquilo que ele realmente é. Numa intervenção xenófoba e caciquista, o actual Presidente da República confirmou que o seu desempenho neste cargo não é ao serviço dos portugueses mas sim ao serviço do seu partido, não é ao serviço dos superiores interesses da nação mas sim ao serviço das finanças dos investidores e dos "mercados". Cavaco menosprezou cerca de 1 milhão de eleitores que colocaram a cruz nos "outros partidos", partidos que se representarão na Assembleia da República com 36 deputados democraticamente eleitos. Sem qualquer demagogia afirmo que o discurso de Cavaco roçou o totalitarismo, e apenas posso ficar grato à lei de limitação de mandatos pela certeza de que este será dos últimos, pois para estragos a infligir a este país ele já teve tempo de sobra...
Já não seria uma criança quando vi o filme, mas a magia que ele deixou prova que ainda existia em mim aquela inocência da infância, que fazia acreditar, imaginar e sonhar, coisas que o tempo se encarrega de ordenar. No filme "Regresso ao Futuro" a data de 21 de Outubro de 2015 guia o DeLorean de Doc Emmett Brown, mais o seu amigo Marty MacFly, para um futuro ainda distante. Chegamos hoje a esse dia que em 1985 era imaginado por Robert Zemeckis. De facto a Mattel ainda não tem comercializado um skate voador, a Nike ainda não produziu ténis que se apertam sozinhos, os casacos não possuem secador automático, os bares de província ainda não despediram os empregados humanos para os substituir por robots, e os carros ainda se deslocam no alcatrão. Poderia continuar a enumerar todos os pormenores, cenas, e muito possivelmente diálogos desse filme, tantas foram as vezes que o vi. É daqueles filmes que tendo marcado uma infância, sempre que dá na televisão acabo por o ver, numa espécie de regresso ao passado...
Grande ambiente que se continua a viver nas bancadas! O jogo iniciado no passado dia 4 continua, e encontra-se neste momento no prolongamento. O resultado final continua sem vencedor antecipado, e a qualquer momento o golo pode surgir. O rescaldo do tempo regulamentar deixa no espectador o desejo de que o espectáculo continue. Depois do apito inicial dado por Cavaco, o árbitro do encontro não tem tido grandes intervenções, e ao melhor estilo anglo-saxónico deixa a bola correr. Costa recuperou o esférico no primeiro momento, e viu as desmarcações de Jerónimo e Catarina, ambos em excelentes posições para marcar, depois de movimentos de antecipação que deixaram a defesa adversária aos papeis. No entanto com Portas a central a coligação depressa se fez novamente com o esférico, num lance que deixou algumas dúvidas aos partidos da oposição, e assim se aproxima do terreno adversário. Costa avisa Merkel, o quarto árbitro, que o lance não foi assinalado pelo árbitro, e que o PS quer um jogo limpo e seguro. Os 90 minutos terminaram em clima de crispação, e pelo que se tem visto no decorrer da contenda parece que o resultado final terá que ser decidido com o recurso à marcação de grandes penalidades.
Calhou de iniciar a leitura desta obra em alturas de calor, com os dias cheios de actividade por onde distribuir o tempo ocioso, motivo pelo qual a mesma acabou por se alongar e terminar apenas no dia de hoje. É impossível a leitura deste livro não se misturar com a imagem de Álvaro Cunhal, e imaginar que a mão que o escreveu transmitiu para o papel toda uma história de vida, uma vida de luta, resistência e resiliência. No entanto "Até amanhã Camaradas" não poderá ser confundido com uma espécie de ensaio auto-biográfico, pois é muito mais do que isso. É um registo histórico de um movimento e de um partido, que desde os primeiros tempos da luta anti-fascista tomou as rédeas da resistência, mas também é ao mesmo tempo uma homenagem a todos os Camaradas que activamente participaram, do mais pequeno funcionário, aos quadros mais íntimos do comité central. Terminei a leitura deste belo livro num momento em que a brisa das ultimas eleições ainda corre pelos corredores do poder, brisa essa que agita a bandeira da foice e do martelo como à muito tempo não se via...
As eleições de Domingo lançaram um novo jogo, que mistura a governação com o futebol. Na verdade, esta mistura entre política e futebol já poderia ter sido inventada à muito tempo, pois em ambos os casos o que é verdade hoje poderá não o ser no dia de amanhã. O povo decidiu que estava na hora deste novo desporto aparecer. Cavaco aparece logo em primeiro plano como árbitro, e fiel ao seu estilo foi célere a lançar a bola para o terreno de jogo, e mais rápido ainda em deixar o apito esquecido algures... O jogo da governação fica assim entregue à contenda entre PPCoelho e Costa, tendo como espectadores os partidos à esquerda do PS que ocupam os lugares da bancada, e PPortas, confortavelmente sentado na tribuna presidencial, longe da confusão da bancada e do calor da disputa. Até ao momento, pelo aquilo que se vê do jogo e dos seus jogadores o resultado encontra-se num empate a 0, fruto daquilo que na gíria futebolística se chama por "bola quente", fenómeno que caracteriza os atletas de fracas capacidades, que na hora de receber a bola se preocupam apenas por se desfazer dela, sem olhar muitas vezes à melhor maneira de dar seguimento ao lance...
Ontem 5 de Outubro de 2015, apesar de não ser feriado laboral, era dia para se comemorar implementação da República, data que marca a substituição do regime de pensão completa garantida por toda uma nação. Os inquilinos mudaram, mas os contribuintes são os mesmos. Diz o latim que o termo República se refere à "coisa pública", ou seja, a algo que é mantido por um conjunto de pessoas, e na realidade essa expressão assenta como uma luva tanto em regime monárquicos, como ditaduras, ou como aquilo que hoje em dia vivemos, classificação que ainda terá que aguardar alguns anos para que historiadores vindouros venham a catalogar. Apesar de ser o dia seguinte a umas eleições legislativas, o dia de ontem merecia melhor tratamento por parte daqueles que são no fundo os beneficiários finais - os governantes. Se no caso do governo, ou da actual oposição, a falta esteja justificada, o facto do Presidente da Republica não ter tido a dignidade de se deslocar ao local sede das comemorações, é algo que não encontra justificação plausível. Cavaco espelha como presidente aquilo que os portugueses sentem pelo país - nada. A abstenção registada nestas eleições ganhou as eleições, e o valor conseguido não deixa dúvidas algumas na hora de decidir quem deve formar governo. Poupo por isso a senhor Aníbal o trabalho de reflexão a que se dedicou um dia de aniversário do seu "Patrão", e facilito a decisão final de convocar todos os tugas que não se deram ao trabalho de se deslocar à urnas de voto, para formarem governo. Acho que é a decisão mais justa e correcta, e evita que os 37% de sadomasoquistas que acharam boa ideia votarem em Pedro e Paulo tenham contribuído para mais 4 anos de governação.
Nos meus tempos de estudante existiam dois momentos que antecediam dois eventos, e sendo diferentes no seu objectivo final eram, no entanto, muito semelhantes na sua concretização. As vésperas de um jantar de curso ou o dia anterior a uma frequência, eram a prova final de uma temporada de festas e noitadas para primeiro caso, de semanas de clausura, meditação e marranço no segundo ponto. Não existindo um remédio milagroso que impedisse a ressaca, ou fosse capaz de nos tornar de um momento para o outro em Einsteins da matéria, o certo é que havia sempre algo onde depositar a esperança de um pequeno empurrão que garantisse o sucesso, ultrapassando os obstáculos a enfrentar. O Cholagut era o fiel companheiro para enfrentar os jantares, onde mais do que comer se bebia, enquanto que o café expresso era a anfetamina que estimulava os neurónios batidos do marranço, e os despertava para dar o litro na hora de colocar no papel o estudo acumulado. Hoje, dia de reflexão que antecede o dia das eleições, o melhor mesmo é sugerir que o café seja gratuitamente distribuído por esse país fora, para acordar os neurónios adormecidos de um povo que se encontra numa ressaca de quatro anos de governação ignóbil, e assim evitar o erro de votar naqueles que colocaram definitivamente Portugal na rota do terceiro mundo. Espero que ainda se vá a tempo, porque depois do mal estar feito não existirá Cholagut algum que nos valha...
A língua portuguesa sendo uma espécie de ponta de lança do latim, onde essa língua falecida encontra muito provavelmente a sua evolução máxima, é muito traiçoeira. Os significados das palavras podem inverter o seu conteúdo de acordo com o modo como são empregues. O termo cobarde pode caracterizar aquele que é medroso, tímido, fraco ou acanhado, sendo igualmente sinónimo daquele que se comporta de maneira desonesta, traiçoeira, ou que é desleal ou traidor. Se o primeiro grupo de adjectivos deixa um sentimento de alguma condescendência para quem assim é, o segundo é claramente a vertente pejorativa, a perfeita caracterização de pessoas ou actos que não merecem uma pinga de respeito. Escrevo para quem é da minha terra, para gente que sabe o que se passa no seio de um dos pilares fundamentais que se deve reger uma sociedade moderna, e que tem vindo a ser delapidado nos últimos três anos por uma campanha de ignomínia em nome de interesses pessoais, numa miscigenação doentia com um modo de fazer política baixo e verdadeiramente reles. A "publicidade" que ontem foi distribuída e que ultrapassou todos os limites da decência ao invadir os terrenos das escolas, é uma afronta à dignidade. Ontem a vergonha foi mais uma vez obliterada do dicionário de algumas pessoas, e a bandeira de conseguir os fins através de todos os meios foi hasteada ao mais alto. O leitor use agora a cobardia da melhor forma que a língua portuguesa lhe permite, mas tendo em conta os acontecimentos recentes, em mim não fica qualquer dúvida na hora de escolher os adjectivos adequados...
Os fenómenos sociais são alvo de estudo desde que a sociologia se iniciou como disciplina cientifica, bem como o comportamento humano que é estudado desde tempos imemoriais, e se tal não serve para aprender e evitar a repetição de erros, como acontece com a história, pelo menos ajuda a perceber os caminhos sinuosos da estupidez do ser humano. A globalização da internet trouxe uma verdadeira revolução em todos os compêndios, pois possibilitou não só a troca livre de algo tão precioso como a informação, como permitiu que deixassem de existir filtros que eliminassem à partida a mediocridade. O desafio passou a ser a escolha, e não a procura. Como se isto não fosse suficiente para elevar à categoria de prémio Nobel a mediocridade, o fenómeno das redes sociais teve o dom de democratizar a imbecilidade, no sentido de dar o direito de expressão a opiniões que anteriormente seriam erradicadas à nascença. Sei que faço uso da liberdade da internet para expressar as minhas opiniões como agora o estou a fazer, mas faço-o num espaço que apenas a mim me pertence e do qual não tenho qualquer necessidade de publicitar, preferindo que seja o seu conteúdo a trazer os visitantes. Hoje em dia quem não pertence a essas redes é condenado a um ostracismo, do mesmo modo que se fazia nos tempos da Grécia antiga, mas prefiro ser condenado neste exílio, do que perder o meu tempo no mar de insignificância a tentar pescar algo que valha a pena.