Ora bem, falar das eleições a nível nacional e daí tirar conclusões é muito difícil, principalmente devido ao facto das eleições autárquicas terem um cariz totalmente diferente de todas as outras pelo simples motivo de que a realidade de cada município torna o mesmo um caso particular. De qualquer modo é hilariante saber que há pessoas que acham positivo votar num candidato que se encontra na choça. Parabéns Isaltino! Aqui pelas minhas paragens, o caso assumiu contornos dramáticos. Com uma diferença de 4, sim, 4 votos, o candidato que se encontrava aos serviços da autarquia durante os últimos 16 anos, que fez parte de uma equipa que voltou a colocar o município no mapa do desenvolvimento e prosperidade, ficou a milhas do esperado tendo perdido largo terreno para um candidato arrivista. Motivos? Por instantes ainda pensei que estando em época de vindimadas o pessoal tivesse votado em estado ébrio. Mas não, foi em consciência que o fizeram, o que revela que no fundo, aqui, tal como em Oeiras, o crime compensa. Tenho vergonha de viver no meio de gente que assim pensa, e assim se manifesta, e dou razão aos juízes do tribunal constitucional quando dizem que as pessoas não sabem votar...
Pergunto-me de que estarão à espera os argumentistas da TVI, quando têm à mão de semear e ainda por cima de forma beijada argumentos de sobra para realizarem uma novela com base no que se passa ao nível da governação aqui na tugalândia. Para além disso, e como tudo indica, o ínicio e o final devem seguir o modelo do romance clássico tuga, com um início idílico e um final trágico, permitindo desse modo construir um argumento diferente do que as pessoas já devem estar fartas de ver. Não querendo meter mão em seara alheia, deixo apenas em jeito de sugestão algumas ideias chave para fazer um enredo digno de Emmy, quiçá mesmo um Óscar caso existisse a categoria de "Best Soap Opera". Assim, os protagonistas do romance serão PPCoelho e PPortas, reunidos na sagrada união da coligação abençoada pela madrinha teutónica que os orienta na árdua tarefa de governar um país desgovernado. Para o efeito Merkl conta com Gaspar, que garante durante uns tempos a estabilidade do matrimónio até ao dia em que decide ir embora. Nessa altura surgem as primeiras desavenças públicas, uma vez que já anteriormente no seio do lar em S. Bento já havia discussões acerca do modo como governar o país. A nomeação da nova ministra das finanças faz PPortas pedir um tempo. Pelo meio, o papel de vilão desempenhado pelo Tribunal Constitucional faz tremer de forma violenta a coligação, ameaçando de quando em vez com a maldita constituição que teima em prejudicar a governação idealizada pela dupla da direita parlamentar. Ora, até aqui o argumento está escrito, e aguardam-se agora os desfechos das eleições e do orçamento de estado para ver se no final tudo acaba como no romance de Camilo, "Amor de Perdição"...
Cerca de 6 milhões de tugas consideram que a atitude de JJesus não é um atentado à ordem pública, nem um incitamento gratuito à violência. Ontem, um individuo foi absolvido depois do fisco ter processado o mesmo por crime de ofensa à pessoa colectiva, depois de ter chamado "Ladrões" ao pessoal das finanças. Ora, deste modo, juntando o útil ao agradável, tendo em conta que a maioria dos tugas considera que bater na bófia é normal, e tendo ainda mais em conta que os insultos podem acabar sem qualquer consequência ao nível dos tribunais, os tugas em geral tem agora a desculpa necessária para fazer aquilo que há muito tempo tem muita vontade de fazer, mas cujo bom senso o tem impedido. Por isso mesmo a partir de agora os políticos que se cuidem, pois para além de uns quantos adjectivos pejorativos podem muito bem passar a contar com hematomas como tatuagem corporal.
O planeta Terra sempre foi habitado por seres das mais variadas espécies. Dessa turba enfurecida que paulatinamente tem vindo a desgastar os recursos naturais disponíveis, o ser humano destaca-se largamente sem qualquer tipo de comparação possível, e o seu desenvolvimento está inversamente proporcional à saúde da Terra. Enquanto que todos os outros seres vivos se mantiveram ao longo do tempo fieis ao seu "estilo", o ser humano também nesse campo teve a sua evolução. A Terra já foi habitada por tribos desnudadas, romanos de togas, cavaleiros de armadura, reis em ceroulas, homens de cartola e senhoras de espartilho, hippies, calças à boca de sino, e os terríveis anos 80 do século XX. Ou seja, cada época marcou um estilo. No entanto, hoje em dia, um observador atento de uma qualquer rua movimentada de uma qualquer cidade populosa verifica que os estilos abundam. Os meus conhecimentos do mundo estilístico são parcos pelo que qualquer tentativa de explicar seria inútil, mas certamente que o leitor concordará que a moda hoje em dia é como a opinião, cada qual tem a sua. Nesses outros tempos em que tudo seguia a mesma cartilha era fácil identificar os anacronismos de um estilista mais desvairado. Tendo em conta o que se passa hoje, e como entre as pessoas o anacronismo é impossível de identificar, o planeta sendo o mesmo talvez seja ele a parte anacrónica...
Pensava que em matéria de rótulos os vinhos eram o supra-sumo do tugalês "Fruta amarela discreta, notas herbáceas, tropical muito contido, banana, minerais esmagados. Elegante e fresco na boca, acidez muto alta, corpo ligeiro, pontuado por traços herbáceos, termina acídulo e vibrante." No entanto, numa tentativa de mudar o champô habitual, fiquei a descobrir todo um novo mundo de recursos estilístico usados pelos publicitários na hora de escreverem o texto que é lido pelo consumidor. Cabelos indisciplinados! Fico na dúvida se estou perante uma Hipálage, querendo neste caso transmitir a ideia de que quem realmente é indisciplinado é a pessoa dona do couro cabeludo, ou se estou perante uma personificação, querendo neste caso dar uma característica humana a algo tão inerte com um cabelo. Enólogos e publicitários, os Eças do séc. XXI!
Tendo em conta a quantidade de "porcaria" que diariamente se publica aqui pela tugalândia, com a conivência e selo do ISBN, pergunto-me se na realidade a sigla significa Instituto Superior da Burrice Nacional. Não posso citar aqui todas as obras cuja leitura considero que se traduziria num desperdício de tempo inaceitável, e pior que tudo, num verdadeiro atentado à industria da pasta do papel, com gasto de árvores obsceno tendo em conta o destino final. Há dias estava numa banca de jornais um livro de José Veiga cujo título era "Como tornar o benfica campeão". Ora, tendo em conta a lei de Murphy, certo é que essa pseudo-obra acabará numa estante de uma biblioteca qualquer, pelo que a minha dúvida prende-se exactamente com a prateleira onde vai repousar o livro... será que fica na secção de "mitologia e lendas", "parapsicologia" ou talvez mesmo "ficção cientifica"...
A minha ideia sobre a escritora deste livro, ou melhor, dos textos que nesta publicação são reunidos, começou por um erro de zapping (não confundir com erro de casting). Numa daquelas noites de pasmaceira a praticar essa modalidade do desporto de sofá, fruto de um torpor preguiçoso e de um livro menos interessante, ao mudar de canal lá se encontrava Clara Ferreira Alves a fazer aquilo que ela própria considera como o seu principal ganha pão - opinar. Volvidos breves instantes e já com o nervoso miudinho do dedo palpitante por pressionar o botão "Ch+", fico com uma ideia de mais uma intelectual com a mania de oráculo da verdade. Erro de interpretação pior não poderia ter cometido. Quando passei a ser espectador assíduo do "Eixo do Mal" rectifiquei esse erro e hoje reconheço em Clara Ferreira Alves uma pessoa de opinião bem fundamentada e muito lúcida da realidade, transbordando conhecimento e vivências pessoais, com uma bagagem cultural que para ser armazenada deveriam ser necessários vários silos. Os textos deste livro comprovam tudo isto, e ainda acrescentam a faceta de escritora com um estilo ecléctico do qual destaco as qualidades que mais gosto - o humor e o sarcasmo. Para apimentar a sugestão que deixo em não deixarem de ler este livro, aqui ficam algumas passagem verdadeiramente sublimes.
- Acerca dos actuais líderes europeus: "Custa a crer como é que um conjunto de gente supostamente eleita por ser inteligente consegue ser tão vilmente estúpida.";
- Acerca da fuga dos ricos às taxas aplicadas sobre os grandes capitais: "As grandes fortunas, como sempre, não acreditam em dívidas à sociedade ou, como dizem os americanos, à comunidade. E, em matéria de patriotismo são muito cosmopolitas e cidadãos do mundo.";
- Acerca da democracia tuga recente: "O dinheiro, as discussões em volta do dinheiro acentuadas pela falta de dinheiro, fizeram do proletariado (e desse híbrido chamado classe média) uma massa informe de consumidores que votam. E consomem democracia, os direitos fundamentais, como consomem televisão, pela imagem. Sócrates e o Armani, Passos Coelho e a voz de festival da canção.";
- Acerca dos novos gadgets, Kindle e iPad: "Gosto de sair de casa com um livro ou uma revista dentro da mala para o caso de ter de entreter o tédio num desses departamentos da vida quotidiana que somos obrigados a esperar. Um Kindle precisa de bateria e tem umas horas de autonomia. Horas? Os livros e revistas de papel têm a autonomia da eternidade".
Doravante todas as faculdades de Medicina por esse mundo fora adoptarão um novo modelo, de modo a explicar aos seus alunos os mecanismos de resistência que as bactérias desenvolvem para resistirem aos antibióticos. O sinal verde dado pelo Tribunal Constitucional, aos autarcas que já tinham cumprido 3 mandatos à frente dos destinos das suas autarquias, não só permitiu a candidatura destes a novos destinos como também serviu de inspiração a professores catedráticos de farmacologia. De facto, considerando que a Lei da Limitação dos Mandatos seria um antibiótico para erradicar toda uma estirpe de políticos profissionais, a resiliência destes provou que tal como as bactérias encontram caminhos para sobreviverem os Menezes e companhia também souberem trilhar o caminho certo para continuar como hospedeiros do meio autárquico. Vamos agora aguardar pelo desfecho das eleições, e verificar se os eleitores estão vacinados...
Caro leitor recomendo desde já que decore este título, pois o mesmo refere-se a uma empresa que pode muito bem tornar-se no D. Sebastião renascido das cinzas, regressado por entre o denso nevoeiro de uma manhã de inverno, que irá resgatar o país das mãos dos credores internacionais, e fazer aquilo que cantamos no hino, ou seja "levantai hoje de novo o esplendor de Portugal". Digo isto porque uma empresa que se sente capaz de voltar a colocar na sua posição original um navio de milhares de toneladas, como o naufragado Costa Concordia, pode muito bem arranjar maneira de endireitar este rectângulo à beira mar plantado. No caso de já não chegar a tempo disso, pelo menos temos um contacto para ligar quando o país cair definitivamente no fundo do abismo do défice.
Fez ontem 5 anos que o banco Lehman Brothers faliu, ou como se diz na linguagem técnica do tuga comum "deu o peido mestre". Claro está que é incomparável esta tragédia com as tragédias humanas do 11/09 e 11M, mas este acontecimento deve ser recordado uma vez que foi a chama que acendeu o rastilho da crise, colocou a descoberto as dívidas públicas, fez tremer e abalar a banca, colapsou vários países e mandatou os líderes mundiais, nomeadamente os europeus, numa demanda como já não se via desde o tempo das cruzadas, só que desta vez no lugar da conquista da terra prometida seguiu-se a conquista do bolso dos contribuintes. Para isso mesmo, em vez de espadas e armaduras a guerra agora faz-se recorrendo à austeridade. E tudo para quê? Para limpar a m***a que a desregulamentação financeira permitiu, orientada por autênticos kamikaze de casino que mais tarde ou mais cedo se iriam espetar. O problema é que no fim quem sofre não é o culpado, mas sim a raia miúda do costume. A banca essa está de volta aos lucros...
Na quarta feira à noite ouço claramente, e em bom som, o nosso primeiro-ministro dizer que sente orgulho pela forma extraordinária como está a decorrer o início de mais um ano lectivo, orgulhoso não só como governante, mas também como tuga que é (para infelicidade nossa). Na quinta de manhã o Jornal de Notícias declarava em letras garrafais que ocupavam meia página um "Regresso caótico às aulas", com professores sem colocação, alunos em casa e escolas que recebem ordem de fecho a dois dias da abertura. O Público alerta para a falta de funcionários da qual se queixam os directores das escolas. O Diário de Notícias refere casos de turmas com 35 alunos ou até mesmo uma com 45, e ainda casos de crianças sem saber qual a escola que vão frequentar. Para ajudar à festa o jornal I denuncia um caso de uma professora que realizou um vídeo porno com um técnico de informática de outra escola. No meio deste cenário dantesco, PPCoelho só pode ter dois caminhos a percorrer. Por um lado, pode continuar esquizofrenicamente a ignorar o estado da realidade e considerar que tudo está a correr pelo melhor. Por outro lado, pode bipolarmente mudar de opinião a 180º, e reconhecer que a educação pública está de rastos. Em qualquer dos casos facilmente se conclui que mentalmente o homem precisa de ajuda.
A lei de Limitação de Mandatos, apesar de ter deixado lugar a interpretações que possibilitaram uns quantos inteligentes prevaricar o sentido que os legisladores pretendiam, conseguiu efectuar o maior desmame politico que há memória por estas paragens, cumprindo uma velha máxima que já vem do tempo de Eça de Queiróz quando afirmava "os políticos e as fraldas devem ser mudados de tempos em tempos pelas mesmas razões"...
Como não poderia deixar de ser, hoje é 11 de Setembro. Pertenço a uma geração que na falta de uma vivência historicamente relevante como o 25 de Abril, data da revolução dos cravos, data da libertação do povo tuga da opressão salazarista, teve no 11 de Setembro o dia em que mais tarde, de chinelos e manta junto a uma lareira bem quentinha, poderá responder à célebre pergunta "onde é que estavas no 11 de Setembro". Estava a assistir em directo ao telejornal, ao mesmo tempo que lia um jornal desportivo, momento de relaxe com hora marcada para as duas da tarde, tempo limite para voltar ao estudo da única cadeira que deixei para a época de Setembro. Por volta dessa hora, Andreia Neves que apresentava o Jornal da Tarde anunciava que havia um incêndio numa das torres gémeas de Nova Iorque, sendo nesse preciso instante que se vê algo a passar seguido de uma tremenda explosão na outra torre. A partir daí a Química-Física ficou para o dia seguinte porque as notícias não paravam, e depois da confirmação de terem sido dois aviões que embateram nas torres, seguiram-se as notícias do sequestro de outro que se despenhou, e de um impensável ataque ao centro do mundo militarizado americano, o Pentágono. Acho que passou pela cabeça de todos que perante este cenário poderíamos muito bem estar à beira de um novo conflito mundial, mas felizmente disso mesmo não passou. O mundo sobreviveu, como continuou a sobreviver depois da crise das dot.com, depois da queda do Lehman Brothers, depois do rebentamento das bolhas imobiliárias, depois da crise financeira. Aqui pela tugalândia, mais do que em qualquer parte do mundo, e porque estamos habituados ao sofrimento, estoicamente nos aguentamos, e daqui por um tempos também poderemos dizer que não só sobrevivemos ao 11 de Setembro e todo o resto, como vergamos a tarefa mais difícil... ser governados por dois incompetentes da direita bacoca em plena época de crise económica internacional.
Começa a existir aqui pela tugalândia uma espécie de guerra de audiências ao nível institucional. Depois do mediatismo em volta das decisões do Tribunal Constitucional chega agora um novo protagonista, a CNE. De facto, a Comissão Nacional de Eleições deliberou uma espécie de Guia das Boas Maneiras para uso da comunicação social, como forma de garantir uma igualdade de tratamento ao nível dos serviços noticiosos. Seguindo escrupulosamente as novas medidas, os telejornais têm apenas duas hipóteses. Uma passa por preencherem o tempo todo da grelha televisiva, permitindo que todos os partidos de todas as candidaturas tenham o mesmo tempo de antena. Outra passa por passarem a ser apresentados pelos habituais enchedores do chouriço das manhãs e tardes televisivas, uma vez que sendo impossível cumprir as missivas igualitárias da CNE, da campanha eleitoral não vamos nada saber.
PPCoelho referiu recentemente que não percebe como existem pessoas que se congratulam com a crise, e que os tugas tem de deixar de lado o medo de "dar o litro" em prol do seu emprego. A infelicidade destas duas considerações é de tal forma grande, que seriam escassos os adjectivos pejorativos que me dariam certo deleite em aplicar a este projecto de governante. Não conhecendo o meio em que PPCoelho se movimenta e no qual ouve essas vozes favoráveis à crise, desconhecendo a sua forma de estar no seu local de trabalho actual, e tendo em conta que dos seus anteriores empregos pouco ou nada se sabe, apenas posso efectuar duas considerações. Por um lado é óbvio que anda muito mal acompanhado. Por outro lado, os tugas não precisam que um primeiro ministro lhes lembre que têm que "dar o litro", porque isso já o fazem todos os dias, tal como a sua política de emprego que "dá o litro", embora no sentido contrário.