Em dia de Conselho de Ministros extraordinário para aplicação de novas medidas de austeridade, tomo a liberdade de transcrever o discurso de um ministro das finanças, no momento da sua tomada de posse:
"Não tomaria, apesar de tudo, sobre mim esta pesada tarefa, se não tivesse a certeza de que ao menos poderia ser útil a minha acção, e de que estavam asseguradas as condições dum trabalho eficiente. V. Exa. dá aqui testemunho de que o Conselho de Ministros teve perfeita unanimidade de vistas a este respeito e assentou numa forma de íntima colaboração com o Ministério das Finanças, sacrificando mesmo nalguns casos outros problemas à resolução do problema financeiro, dominante no actual momento. Esse método de trabalho reduziu-se aos quatro pontos seguintes:
a) que cada Ministério se compromete a limitar e a organizar os seus serviços dentro da verba global que lhes seja atribuída pelo Ministério das Finanças; b) que as medidas tomadas pelos vários Ministérios, com repercussão directa nas receitas ou despesas do Estado, serão previamente discutidas e ajustadas com o Ministério das Finanças;
c) que o Ministério das Finanças pode opor o seu «veto» a todos os aumentos de despesa corrente ou ordinária, e ás despesas de fomento para que se não realizem as operações de crédito indispensáveis; d) que o Ministério das Finanças se compromete a colaborar com os diferentes Ministérios nas medidas relativas a reduções de despesas ou arrecadação de receitas, para que se possam organizar, tanto quanto possível, segundo critérios uniformes. Estes princípios rígidos, que vão orientar o trabalho comum, mostram a vontade decidida de regularizar por uma vez a nossa vida financeira e com ela a vida económica nacional."
O leitor com toda a certeza que concordará na actualidade deste discurso, podendo mesmo, sem ferir qualquer susceptibilidade, achar que tenha sido proferido por Vítor Gaspar. Contudo, este excerto faz parte do discurso da tomada de posse da pasta das finanças por parte de António de Oliveira Salazar, a 27 de Abril de 1928. Na altura, o que se veio a tornar pai da ditadura do Estado Novo ainda acrescentou:
"Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o País estude, represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar"
Com o discurso de Cavaco e com a atitude deste executivo, nota-se que sabem o que querem. Eu por mim é que receio o caminho por onde vão.
Politicamente falando, o meu respeito por Cavaco Silva encontrava-se desde à muito numa pequena e minúscula míngua vestigial, não estando a exagerar com o pleonasmo. Com o seu discurso de quinta feira, em dia de comemoração de 25 de Abril, em plena Assembleia da República, mais do que apagar de vez qualquer réstia de respeitabilidade, colocou a descoberto as suas verdadeiras intenções e numa dissertação que é um vexame para o papel de Presidente da República matou a democracia:
"Que não haja ilusões. Portugal tem de preparar-se para o final do Programa de Assistência, o que irá ocorrer já no próximo ano. Os nossos agentes políticos, económicos e sociais têm de estar conscientes que deverão actuar num horizonte temporal mais amplo do que aquele que resulta dos calendários eleitorais. Sejam quais forem esses calendários, sejam quais forem os resultados das eleições, o futuro de Portugal implica uma estratégia de médio prazo que tenha em atenção os grandes desafios que iremos enfrentar mesmo depois de concluído o Programa de Assistência Financeira em vigor"
"Em nome dos Portugueses, é essencial alcançar um consenso político alargado que garanta que, quaisquer que sejam as concepções político-ideológicas, quaisquer que sejam os partidos que se encontrem no Governo, o País, depois de encerrado o actual ciclo do programa de ajustamento, adoptará políticas compatíveis com as regras fixadas no Tratado Orçamental que Portugal subscreveu"
Resumindo, perante a plateia de deputados democraticamente eleitos pelo povo, Cavaco confinou o papel de políticos, deputados e governantes à função de meros fantoches nas mãos dos credores internacionais, comandados pelo desígnio e arbítrio da economia de mercado. Este senhor raramente fala, e comprovadamente se constata que o melhor é mesmo estar calado.
Ontem foi 25 de Abril, mas passados 39 anos da revolução os capitães nada fizeram. É pena, e bem que estávamos a precisar. Presumo que o avançado da idade lhes condicione a iniciativa, e fiquem confortavelmente sentados no sofá da sala, de roupão e chinelo aconchegados. Esta é a imagem que imagino do serão desses combatentes da liberdade. Não consigo é imaginar como terão ficado depois de ver a reportagem que a RTP transmitiu no final do serviço noticioso. Em resumo, a peça elucidava o espectador acerca do aumento do número de lojas de grande luxo, ao longo da Avenida da Liberdade, alimentadas por turistas extracomunitários dos quais a maior fatia cabe dos angolanos. Ou seja, decorridos 39 anos da revolução dos cravos, o povo oprimido que oprimia está na bancarrota, e o povo que era oprimido pelo povo oprimido é uma das economias emergentes ao nível mundial. A RTP é livre de transmitir o que quer, quando quer, mas em dia de comemoração do 25 de Abril, esfregar a nossa "miséria" em horário nobre é no mínimo indecoroso.
Com este título o leitor deve achar que estes são provavelmente os nomes de umas quaisquer mascotes de uma qualquer competição desportiva. Na verdade, apesar de aceitar receber direitos de autor caso isso venha a acontecer, o título está relacionado com uma das mais recentes novelas que retratam a pandega carnavalesca que os nossos governantes nos proporcionam. Quando uma pessoa pensava já ter visto de tudo no que ao vilipendiamento dos dinheiros públicos diz respeito, surge uma nova adenda e desta feita ao melhor estilo de Las Vegas. Digo isto porque não vejo qualquer diferença entre fazer este tipo de negociações SWAP, e pegar na mesma quantia e perder a cabeça no Casino Estoril com a roleta russa e blackjack. Isto é demais! Se a incompetência governativa já tinha direito a doutoramento honoris causa, juntar-se a arbitrariedade do jogo das taxas de juro à gestão pública é meio caminho andado para o país dar o FLOP final. Tal como já foi neste blog comentado, uma vez que não há guerra e os capitães estão confortavelmente sentados, o melhor é o povo fazer uma vaquinha e contratar aquelas forças especiais dos estates para tomar de vez o poder e arrumar com estes energúmenos. Venham de lá do outro lado do atlântico os SWAT.
As leis e a língua portuguesa possuem uma característica comum - podem ser muito traiçoeiras. Um bom exemplo disso mesmo é a polémica lei da limitação de mandatos, que nos últimos tempos tem vindo a levantar poeira junto de figuras de renome do panorama político nacional. Quando entrevistados para dar opinião sobre a interpretação da lei, os seus autores opinaram de diferente forma, o que revela a que ponto se eleva a arte de interpretação das leis, quando os seus pais não chegam a acordo sobre o sentido que lhes deu origem. Alheios a estas estranhas vicissitudes da dura lex sed lex, os candidatos que tentam desesperadamente não perder o vínculo autárquico recorrendo à mudança de ares, alegam em sua legítima defesa que no fundo estão a aplicar o slogan de apoio ao turismo tuga ao mundo da política. Realmente o "vá para fora, cá dentro" encontra um sentido nesta promiscuidade autárquica mais profundo daquele que resulta da sua aplicação inicial. Como forma de não beliscar a credibilidade do slogan turístico, a equipa de marketing deste blog sugere para Menezes e cª "continue dentro, indo para fora"...
Na semana passada durante a primeira intervenção pública de um dos benjamins deste elenco governativo a palavra consenso foi vituperantemente violada. Esse estupro ocorreu perante os microfones da comunicação social, depois de uma reunião do conselho de ministros que durou até altas horas da madrugada para chegarem à conclusão que é necessário chegar a uma conclusão. Gaspar, atento que estava à conferência de imprensa, depois de contabilizar as 12 vezes que a palavra consenso foi utilizada pelo seu subordinado, ocorreu-lhe logo uma ideia ao melhor estilo gaspariano - tributar o uso desmesurado de palavras do léxico tuga. Logo que teve oportunidade foi apresentar esta iniciativa a PPCoelho, e este, num inédito e singular laivo de inteligência que prova cientificamente a existência da actividade cerebral na sua massa cinzenta, alertou o ministro para os perigos de "pescadinha de rabo na boca" que a medida poderia significar para todos os elementos do governo. Realmente, se o uso de palavras fosse taxado, o deficit do estado melhorava só com o número de vezes que a palavra "austeridade" sai da boca de ministros e afins.
Ao nível da educação o ministro pretende conseguir mais com menos:
- no ensino obrigatório, e tendo como objectivo primordial o sucesso escolar, Gaspar já adiantou em sede própria que a tugalãndia passará a seguir o modelo educacional que recorre à reflexologia de Pavlov. Inicialmente o método parece ser controverso, mas garante que os resultados saltarão à vista. Quem vai saltar no início são os alunos pois, não recorrendo a métodos coercivos como o de antigamente, vão ser instaladas pulseiras de choque eléctrico que serão accionadas em caso de respostas erradas. Se o cão se salivava sempre que ouvia a campainha, os alunos vão andar com a matéria na ponta da língua antes dos testes chegarem, evitando descargas eléctricas desnecessárias.
- no ensino superior, e tal como já foi adiantado por Nuno Crato ainda na semana passada, as Universidades passarão a contar com mais autonomia. Até ao momento não se sabe o que quereria dizer o ministro com isso, mas pelo andar da carruagem parece que no fundo quer dizer que têm autonomia para encontrar financiamento, pois o chefe das finanças já disse que não vai nem mais um euro e estudar demais não nos leva a lado nenhum, fundamentando a sua opinião nas mais recentes estatísticas do desemprego entre os trabalhadores com curso superior.
Depois de vários modelos de organização do complicado e complexo mundo judicial, terem redundado no contínuo acumular de processos e gasto de papel galopante, Vítor Gaspar resolveu que a única e mais acessível solução é recorrer ao Boxe. Desse modo, dispensando os dispendiosos advogados as partes em litígio terão que resolver os seus diferendos no ringue de Boxe. Para além de acabar com o problema da morosidade na justiça, o ministro ainda consegue promover a pratica desportiva. Fontes ligadas ao ministério garantem que a solução inicial passava por duelos, mas realizados à moda antiga, ou seja, com pistolas e balas. Contudo, um secretário de estado qualquer avisou que assim poderiam dar demasiado nas vistas, pois seriam acusados de estar a acabar com o problema da segurança social, eliminando os utentes.
A defesa nacional não vai passar ao lado da censura económica do ministro Victor Gaspar:
- os móveis e imóveis que constituem o erário do ministério não poderão ser alvo de gastos de manutenção, e ficando velhos ou inactivos, serão aproveitados para museus, sendo o apuro de bilheteira revertido directamente para o deficit do estado;
- os exercícios militares no exterior deixarão de ser efectuados no exterior. Qualquer simulacro de situação de guerra será efectuado no conforto da caserna, recorrendo a consolas de jogo compradas em grandes superfícies de venda de artigos chineses;
- os exercícios de tiro deixarão de contar com balas. No seu lugar o soldado terá que gritar a plenos pulmões ra-ta-ta-ta, lançando ao mesmo tempo um tomate podre gentilmente fornecido pelas sobras diárias dos hipermercados.
O Serviço Nacional de Saúde vai adoptar um modelo que até ao momento ainda não passou do papel, encontrado nos apontamentos de um esquizofrénico internado no Hospital Júlio de Matos, que entretanto fugiu porque o guarda nocturno foi dispensado. Assim, Vítor Gaspar deliberou que os Centros de Saúde e Hospitais tugas doravante seguirão a máxima do faça você mesmo, literalmente aplicada ao utente. Aqui ficam dois exemplos:
- os curativos e trocas de pensos continuam a ser feitos no mesmo local, só que no lugar do enfermeiro será o doente a tratar da ferida. O ministro considera que puxar por um fio de uma sutura e descolar e colar pensos, até uma criança é capaz de o fazer. O Betadine e Álcool serão substituídos por sabão rosa e água del cano, porque afinal de contas o nosso sistema imunitário também tem que fazer alguma coisa em nome da austeridade.
- em caso de administração de injectáveis o utente terá que se amanhar, ou quando muito pode pedir a um familiar ou amigo para o fazer. O ministro considera que a dor de uma aplicação menos bem feita é inferior à dor que o conjunto de medidas de corte e costura nos está a provocar.
Esta semana será publicado diariamente as novas aventuras do ministro das finanças, na sua busca interminável pelo santo graal da poupança, publicações com o título de"As gasparices de Gaspar". Esta obra será inspirada no documento secreto que contem as verdadeiras medidas de austeridade aos gastos do estado, que já tem levado funcionários de todo o país a incluir o papel higiénico nas coisas a levar para o seu local de trabalho, para cumprir com as normas mais básicas de higiene e segurança no trabalho. Esse documento secreto foi obtido para este blog recorrendo a mercenários (não tendo sido pedida factura para poupar a taxa do IVA), e assim temos em posse o "CR+7" onde se explica à troika os motivos e medidas pelas quais nos podem garantir mais 7 anos para pagamento da dívida. O nome não é nenhuma homenagem ao craque tuga Cristiano Ronaldo, mas sim uma simples abreviatura da nossa triste realidade "Continuamos Rotos mais 7 anos".
Muitas linhas seriam sempre poucas para descrever Nelson Mandela. Guiado pelo seu próprio punho, foi através desta obra que mais fiquei a saber sobre uma das figuras mais importantes, e nobres, da história mundial. Se o passado recente da África do Sul passa por quase um século de luta pelos direitos da maioria negra oprimida, os 27 anos que Madiba esteve preso em nome dessa causa conferem-lhe o estatuto de comandante da refrega. Tendo-lhe sido sonegado o direito pelo qual sempre lutou, é difícil de entender como descreve as agruras da vida prisional com uma naturalidade diáfana. No entanto, o sofrimento dessa reclusão é de sobremaneira exposto, aquando da primeira visita a Robben Island de sua filha, genro e neta, que tomo a liberdade de partilhar:
"Não apertava a minha filha nos braços desde quando ela tinha mais ou menos a idade da minha neta. Foi uma experiência vertiginosa, como num romance de ficção cientifica em que há uma distorção no tempo, abraçar assim a minha filha já adulta. Depois abracei o meu novo filho, que me passou para os braços o corpinho minúsculo da minha neta, que não larguei mais durante o resto da visita. Segurar um bebé macio e vulnerável nas minhas mãos calejadas, que há tanto tempo só manejavam coisas como pás e picaretas, foi uma felicidade imensa. Não creio que algum homem alguma vez se tenha sentido mais feliz ao segurar um bebé do que eu senti naquele dia (...) É costume ser o avô a escolher um nome, e optei por Zaziwe - que significa «Esperança». Um nome carregado de significado para mim que, durante toda a minha permanência na prisão, nunca perdi a esperança e que agora não mais me iria abandonar. Estava convencido de que aquela criança faria parte de uma nova geração de sul-africanos para quem o apartheid não passaria de uma memória distante. Era esse o meu sonho."
A sua obstinação como pessoa personifica-se nos seus hábitos diários, em que se levanta diariamente por volta das 5 horas para fazer exercício. Mesmo na prisão, impedido de sair da cela, corria durante 45 minutos sem sair do sítio. Este carácter resiliente, aliado a princípios de solidariedade e tolerância em doses desconhecidas noutro ser humano, possibilitaram que nas várias alturas em que o país seguia rumo à corrente da guerra civil fosse Nelson Mandela a âncora que estacionou a nação no porto da paz, conduzindo tudo e todos até às primeiras eleições livres e multiraciais. O longo caminho para a liberdade não terminou nesse dia pois tal como refere "Ser livre não é apenas quebrar as correntes, mas viver uma vida que respeita e estimula a liberdade dos outros. O verdadeiro teste da nossa dedicação à liberdade ainda mal começou".
Farmacologicamente, qualquer efeito prejudicial ou indesejável, não intencional, que aparece após a administração de um medicamento em doses normalmente utilizadas no homem é considerado como um efeito secundário. No passado domingo, no final de uma tarde fria e chuvosa, passada ao borralho, PPCoelho aproveitou o torpor dos habitantes da tugalândia para anunciar o que todos já sabemos, e já aqui foi discutido. No entanto, tugas houveram que passaram o resto do dia de descanso por excelência e início da semana numa azafama impressionante. Desde os prestadores de cuidados de saúde privada ao pessoal ligado aos seguros de saúde, todos correram para a fotocopiadora mais próxima para aumentar o stock de impressos para adesão aos seus serviços, tarefa de tal modo executada que a Portucel teve que aumentar a produção de resmas de papel. Neste caso, o remédio do primeiro ministro para a nação parece ser vantajoso para umas áreas, ficando o efeito secundário patente no envenenamento do estado social.
Na península coreana, reina e tem reinado a discórdia. A fronteira entre as duas Coreias é uma das zonas mais militarizadas do mundo actual. Nos últimos tempos o clima de tensão tem-se intensificado ao ponto de já se ameaçarem mutuamente com armamento pesado, nomeadamente o nuclear. Quando passam imagens dos telejornais da Coreia do Norte, se não estivermos atentos às legendas com a respectiva tradução, olhando apenas para os gestos e expressões arreliadas da apresentadora, acompanhados por um tom e cadência de discurso que parece estar zangada com mundo e meio, poderemos tirar conclusões precipitadas. Eu pelo menos tirei, pois acho que aquele país parece estar parado no tempo, mas no que ao tempo diz respeito é capaz de efectuar previsões não só de queda de chuva e granizo, como também da queda de mísseis.
A semana que passou pode considerar-se como o paradigma da incompetência tuga. Os casos que de seguida vou referir são uma milésima parte de tudo o que se poderia coleccionar em matéria de lástima nacional, tarefa que se algum dia alguém se der ao trabalho de a executar terá que no final publicar em vários tomos, muito possivelmente do tamanho da Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Assim:
- terei que dar os parabéns ao politicamente malogrado ministro dos assuntos parlamentares, uma vez que antes de ser demitido por se concluir que tirar uma licenciatura na qual uma das cadeiras foi feita por oral, por um professor que não era o titular, e cujo tema de estudo foram escritos realizados pelo próprio aluno, enquanto que os colegas faziam exame escrito, corrigido pelo devido professor, resolveu e muito bem dar de frosques e demitir-se ele mesmo. Quem anda à chuva molha-se e Relvas como não tem guarda-chuva resolveu abrigar-se antes da tempestade.
- delinquentes previamente identificados e culpados, alvos de um dos processo mais longos da história da justiça tuga, apresentam-se para a detenção mas, pela falta de um documento, voltam para as viaturas para irem almoçar e regressar mais tarde. A sorte foi que estamos em crise e ficaram por uma tasca de diárias, pois o catering do Aeroporto é muito caro e poderia dar ideias de fuga.
- a presidente do grupo de pançudos que diariamente se reunem num local que se dá pelo nome de parlamento, depois de se ter reformado ao 42 anos, achou que fazer as palavras cruzadas da Maria já não lhe dava entusiasmo e resolveu voltar a ter um emprego. No entanto, como a reforma do Tribunal Constitucional era de 7255 euros, e não podendo acumular com o vencimento de 5219,15 euros do actual tacho, abdicou do mesmo mas não dos 2133 euros de ajudas de custo. Não sei o que veste, o que come e onde mora, mas porra, com essa quantia devia mas era ter ajudas para gastar. Eu ofereço-me.
- por fim e já que se falou em Tribunal Constitucional, há que dar os parabéns aos seus membros, uma vez que no lugar dos 7 meses que demoraram o ano passado a confirmar a borrada orçamental, este ano demoraram apenas 4, e ainda por cima anunciaram as suas decisões à 9 da noite de sexta feira. Resultado? Lá se foi o fim de semana do governo que teve que se reunir para fazer as contas outra vez. Vai buscar...
Desde o chumbo do PEC IV, passando pelas eleições, e durante toda a governação, foi efectuada por variadas vezes neste modesto espaço de opinião uma análise aos perigos de um governo de maioria de direita, apadrinhado pelo pai do défice tuga que actualmente desempenha as funções de Presidente da República, elementos que combinados com um clima de recessão fariam o caldo necessário para acabar com o estado providência. Na passada sexta feira o colectivo de juízes do tribunal constitucional deu de bandeja a desculpa para este governo dar o golpe final em direitos que até ao momento considerávamos de inalienáveis. Se os senhores do direito demoraram 3 meses a deliberar acerca do Orçamento de Estado, os tortos que nos governam apenas usaram uma tarde de sábado para discutir as soluções que com toda a certeza há muito que estariam prontas para sair da gaveta. Antes de se dirigir no Domingo ao país, PPCoelho ainda passou em Belém no final do dia anterior, apenas para pedir uma rubrica ao padrinho. O que PPCoelho disse nada mais é que assumir o compromisso de acabar de vez com uma ideologia de estado que há muito lhe faz impressão, e que tem vindo paulatinamente a delapidar. O tribunal constitucional abriu o buraco para o enterro, e mais uma vez, o povo fica com tarefa pior de segurar a pá para tapar o caixão do estado providência.
Ontem foi um dia negro para o panorama humorístico tuga. Uma das musas inspiradoras resolveu pendurar as botas e abandonar os focos dos projectores da ribalta. Miguel Relvas cortou pela raiz a sua ligação a PPCoelho. Por muito material que ainda esteja na calha para se explorar, a sua ausência diária certamente que se irá fazer sentir. Mas do mesmo modo que Humphrey Bogart e Ingrid Bergman sempre terão paris, os humoristas tugas sempre terão as vicissitudes do modo de estar e trabalhar, que só aqui na tugalândia oferecem situações como a que também ontem ocorreu. Na novela em que o processo Casa Pia se tornou, o episódio de ontem corre sério risco de se tornar o mais marcante da sua já longa emissão. Dois dos arguidos condenados a pena de prisão comparecem no estabelecimento destinado a esse fim, e volvidos 45 minutos regressam às suas viaturas porque foram impedidos de serem presos pela falta de um documento, também conhecido por papel. Razão tinham os Gato Fedorento quando fizeram aquela fantástica rábula acerca do "papel, que papel? o papel.".
Não! Com este título não estou a fazer qualquer tipo de análise ao dia de ontem e à moção de censura declarada pelo maior partido da oposição à coligação governativa. Estou sim a sugerir que no lugar de eleições legislativas seja realizado um teste, aberto a todos os interessados, como forma de escolher o próximo governo da tugalândia, eliminando de uma vez por todas todos os partidos políticos sejam eles alvos, ou os gatilhos de moções de censura como a de ontem. Da esquerda à direita o panorama partidário nacional leva-me a este tipo de conclusão, porque no fundo todos mostram de diferentes maneiras um tremendo deficit de noção, e uma grande falta de senso.
Desvios orçamentais são o prato forte do desporto nacional da incompetência. Existissem jogos olímpicos nesse campo que a medalha de ouro estaria garantida. A ponte Europa em Coimbra, depois rebaptizada de Rainha Santa Isabel, é um dos melhores exemplos nessa matéria. Para além de todos os itens da irresponsabilidade de gestão de dinheiros públicos estarem criteriosamente cumpridos, as más línguas de então garantiam que os tabuleiros da ponte estariam desviados um par de metros na hora da sua junção. Nessa altura, ainda se viviam os tempos em que para se entrar na Universidade não era necessário nota mínima. No caso das engenharias, abundavam os estudantes que se apresentavam ao serviço das físicas, matemáticas e álgebras com notas negativas na disciplina das ciências exactas. Deste modo, como se poderia depois ficar indignado com pontes que não batiam certo? Agora dizem que vivemos acima das nossas possibilidades!? Eu digo, "em tempo de vacas gordas ninguém verificou se havia campo de pasto"...