um Discurso
Politicamente falando, o meu respeito por Cavaco Silva encontrava-se desde à muito numa pequena e minúscula míngua vestigial, não estando a exagerar com o pleonasmo. Com o seu discurso de quinta feira, em dia de comemoração de 25 de Abril, em plena Assembleia da República, mais do que apagar de vez qualquer réstia de respeitabilidade, colocou a descoberto as suas verdadeiras intenções e numa dissertação que é um vexame para o papel de Presidente da República matou a democracia:
"Que não haja ilusões. Portugal tem de preparar-se para o final do Programa de Assistência, o que irá ocorrer já no próximo ano. Os nossos agentes políticos, económicos e sociais têm de estar conscientes que deverão actuar num horizonte temporal mais amplo do que aquele que resulta dos calendários eleitorais. Sejam quais forem esses calendários, sejam quais forem os resultados das eleições, o futuro de Portugal implica uma estratégia de médio prazo que tenha em atenção os grandes desafios que iremos enfrentar mesmo depois de concluído o Programa de Assistência Financeira em vigor"
"Em nome dos Portugueses, é essencial alcançar um consenso político alargado que garanta que, quaisquer que sejam as concepções político-ideológicas, quaisquer que sejam os partidos que se encontrem no Governo, o País, depois de encerrado o actual ciclo do programa de ajustamento, adoptará políticas compatíveis com as regras fixadas no Tratado Orçamental que Portugal subscreveu"
Resumindo, perante a plateia de deputados democraticamente eleitos pelo povo, Cavaco confinou o papel de políticos, deputados e governantes à função de meros fantoches nas mãos dos credores internacionais, comandados pelo desígnio e arbítrio da economia de mercado. Este senhor raramente fala, e comprovadamente se constata que o melhor é mesmo estar calado.