analfabetos Sazonais
Existe uma característica inalienável ao verão que me deixa um pouco intrigado, ou mesmo preocupado. Nesta altura do ano, acompanhando o calor e as hordas de melgas e mosquitos, os livros aparecem debaixo do braço, na mão ou no regaço de leitores em trajes menores e chinelinha de enfiar o dedo no pé. Claro que nem toda a gente dispõem da disponibilidade (e lá estou eu com redundâncias, qualquer dia ainda me cobram um imposto por isso) de tempo para ler durante o ano, procurando esta altura de férias para deitar uma sementes de cultivo no campo cinzento do nosso cérebro. O que é censurável é o papel que papelarias e livrarias desempenham na divulgação e incentivo da leitura. No verão, recorrem sempre a publicidade acerca de "leituras de verão". Tudo bem, mas pergunto-me porque é que durante o resto do ano nunca ouvi falar em leituras de Carnaval, Páscoa, Outono, Inverno ou Natal. Agora mais do que nunca, com as turmas de 30 alunos com que o governo quer lotar as salas de aula, será necessário mudar esta política de incentivo à leitura, de forma a evitar correr o risco de tornar a tugalândia numa terra de analfabetos sazonais.