poesia Orçamental
Sempre tive um grande problema com a disciplina e, por arrasto, com os professores de português. A minha capacidade limitada de interpretação dos textos nunca foi do agrado de nenhum, e a minha pouca disponibilidade para dar palha ou, por outras palavras mais educadas, para dar música, granjeou sempre muita pouca simpatia por parte do docente da disciplina. Estivesse em discussão uma estrofe de Camões, uma cantiga de escárnio e maldizer ou um excerto de "Os Maias", o conflito entre a minha redundância interpretativa e a capacidade esquisofrénica do professor e da maioria dos meus coleguinhas de turma para desenvolver as mais diversas teorias acerca daquilo que o escritor dizia nas entrelinhas do texto, foi batalha latente ao longo dos vários anos em que tive que levar com o ponto de vista que uns julgavam superior ao meu. Por isso mesmo que todos os anos não espero grande coisa da apresentação do Orçamento de Estado, e este último foi mais um bom exemplo de como o mesmo texto pode ser interpretado de maneiras diferentes, ficando sempre a dúvida sobre qual é o dono da razão. Tal como um poema, o OE para 2017 teve duas análises diametralmente opostas. Por um lado, temos a direita que defende o pleonasmo intrínseco do aumento da carga fiscal sobre os contribuintes. Do outro, temos a esquerda que garante a personificação da justiça social neste documento que repõe os direitos sobre a classe trabalhadora e o aumento das pensões. Ao meio está o sempre pau para toda a obra do contribuinte, que fiel à interpretação única e inalienável do pagamento dos impostos apenas se limita a cumprir o que os outros interpretam...