o fim de um Século
Quando termina um século, e quando começa outro? Esta questão é meramente retórica, pois a matemática da cronologia e o ritmo inexorável do tempo respondem por si só. No entanto, nunca como agora uma questão tão simples como esta teve tanta importância. A existência humana sempre assistiu a mudanças, por vezes com a forma de atropelos ao desenvolvimento como foram os casos das invasões bárbaras, a idade média ou as grandes guerras mundiais. Não digo que neste momento esteja à porta algo de tal dimensão e magnitude, porque aí estaria eu mesmo a ser ainda mais velho que o velho do Restelo. Contudo, desde que o Renascimento despertou a humanidade para a luz do dia o caminho foi progressivamente no sentido de melhorar as condições de vida, juntamente com uma consciencialização do papel do homem no mundo, matérias assentes numa perspectiva de harmonizar a vida em sociedade. O século XX foi uma espécie de culminar de todo este processo, e se por um lado tem o lado negro das guerras mais sangrentas da história da humanidade, por outro lado deixa a sua marca na história com o fim da escravatura, a luta pelos direitos das mulheres, e a morte dos regimes despóticos colonialistas. O século XX já terminou hà 16 anos de forma oficial, mas continua a definhar com a morte daqueles que o marcaram, e que desempenharam papeis de relevo na construção da sua história. A morte dessas pessoas deixa necessariamente um vazio pelo simples facto do seu desaparecimento, sentimento agravado quando se olha para o que temos hoje em dia, ou daquilo que poderemos esperar para o futuro que, temo muito, não augura nada de bom. A crise de refugiados, o crescimento dos movimentos de extrema-direita, e situações inverossímeis como ainda agora se viu nos E.U.A., falam por mim e provam que não sou um velho do restelo, mas sim uma pessoa consciente que o sumo das personalidades que marcaram o século está paulatinamente a secar, e a vitamina que o planeta precisa escasseia cada vez que desaparece um desses vultos e marcos da história, sem que se encontre similar ou genérico à altura das necessidades. Hasta la vitória siempre...